EU SOU DEUS

     Deus é pai, essa é uma verdade pura. Hoje, que sou pai, descobri que sou Deus. Descobri que Deus é como eu e eu sou como ele. Alias, somos um só. E, se como pai sou Deus, vi em minha filha, o retrato da criação; uma humanidade imperfeita e egoísta.

     Entendi assim que Deus é amor e que o amor é incondicional. Como Deus, digo, como pai, amo minha filha incondicionalmente. Não importa que ela me corresponda ou ignore. Não importa se ela me rejeita. A amo o tempo todo, sem restrições, mais que tudo. Por isso, mesmo que ela me abandone ou que nunca ouça falar de mim, caso tenha um padrasto qualquer; João, José, Buda ou Maomé! Não importa, lhe amo mesmo assim! Pois sou Deus e Pai e a amo como se fosse a única e nunca lhe desejarei o mal porque isso não cabe em mim, está fora de mim. Eu que sou Todo amor não posso fazer mal a minha criação, é contradição.

     Mesmo que ela me renegue, me humilhe, que ame meu maior inimigo, se ela crê (sabe que eu existo) ou não, se tem fé (fidelidade) ou não, lhe amarei infinita e incondicionalmente com igual amor se me fosse fiel e prestativa filha. Pois sou parte dela e ela de mim e só posso ser assim, todo amor!

     Acontece que os filhos – humanidade – são de natureza mimada egocêntrica, acham que amamos uns filhos mais que os outros não se compreendem e vivem num estilo que bem lembram Caim e Abel, vivem mais em conflito por atenção de que em paz, e desejam sempre serem reconhecidos como os filhos pródigos quando agem como o irmão do mesmo, que vive pela obediência sem nada compreender. Mais o amor é incondicional e minha atenção total. Porque amo mais minha filha do que a mim e nela reside todo minha razão de ser.

     Acontece que os filhos não entendem isso. Não vêem que somos à sombra deles o tempo todo. Os filhos sempre pensam que podem tudo, que sabem tudo e que são donos do mundo, quando mal sabem ainda caminhar. Acontece que eles não vêem o mundo com olhos de adultos. E Que eu, Pai, estou sempre atrás seguindo seus passos;. antes que ela caia, eu seguro; antes que algo a direita lhe atinja, eu desvio; se ela não alcança, eu derrubo; enquanto ela pequenina – com olhos de criança – acredita que faz tudo sozinha e só quando insiste em me contrariar e que então lhe deixo errar para aprender é que ela me nota e começar a orar-pedir minha ajuda. Mas tem que ser assim, é de natureza humana aprender pela experiência. É minha Criação, eu entendo. Por isso nunca deixo de aconselhar minha filha, como não impeço ela de enfiar o dedo na tomada. Pois é sua experiência de filho pródigo que dará sentido as lições de vida que eu pronuncio. A minha Criação ainda com espírito infantil e olhos de criança vive a maravilhosa sentença de se auto conhecer; As vezes pensa que eu sou Super Herói, Mágico, quando prevejo o futuro. Mas meu poder esta no amor, não no fantástico. É Que ela, minha filha-humanidade, do seu ponto de vista, não enxerga a poça à frente, o carro que vem, o balanço que passa e se você repreende e restringe, se aborrecem e vive a dar cabeçadas na parede, e só machuca porque não me escuta. As vezes teme meus castigos, imaginando o pior possível, quando deveria me ver como seu melhor amigo. Mas tem que ser assim, porque é preciso cair para aprender, e não ser dócil para obedecer. E é assim que lhe amo; o pai se entristece vendo o filho cair da bicicleta para se regozijar-se com mérito dele aprender a pedalar.


     Tem vezes que o filho deseja tentar seguir seu próprio destino mesmo que pelo caminho mais longo, perigoso, difícil. E se faz preciso deixá-lo de castigo por um tempo. Para ele refletir por uma escolha mais sensata. Para o filho desagradado esse castigo é um inferno que não passa nunca, eterno. Mas Deus é amor e, como eu também, é pai. E se o amor é incondicional e perfeitamente bom, não castigaria ninguém para sempre, menos ainda por simples desaprovação ou mágoa, pois quem ama não desconta o erro com vingança, mas sempre perdoa a dor que for. Esse castigo é apenas um exílio temporário para o filho que passa dos limites, e quando ele percebe o erro, abandona os vícios e volta como o pródigo maduro, adulto e é recebido com festas e banquete maiores do que aquele que só viveu por viver na mera obediência do medo de aprender. Por isso que me felicito com a volta, o que às vezes mata de inveja Caim.

     O Amor é Assim; sem ciúme, sem rancor, tudo sabe, tudo suporta, é independente e não depende da reciprocidade, é infinito, tudo espera pelo tempo que for. Por que o tempo não existe para o amor. E você, amigo filho-leitor, que ainda pensa com mente de criança talvez não entenda e me recrimine porque eu desaprovo sua bajulação, seus louvores de exaltação a violência. É que eu, como Deus, não gosto de violência, pois se é parte de mim e minha criação, não me faz feliz irmão brigando com irmão. Então em meu nome não grite , não amarre , não pise, não revide o mal porque tudo tem a mesma origem. Ainda assim, Talvez me xingue e ainda não compreenda porque não me aborreço, não revido, pareça isento ou nem apareço.
É que antes de você errar, eu já te perdoo.
Eu sou assim, Coisa de Deus sabe. Digo, de Pai.