O MURO DE AVENCAS
Eu olhava fascinada para o muro de avencas, forte, magistral e imponente, no fundo de nossa casa. Acima do muro, do alto dos meus cinco anos, eu podia ver uma pequena parte da casa da Dona Iria, minha amiga querida e ferrenha defensora da garotinha levada que eu fui. Ficava na porta da cozinha olhando as avencas. Como é que elas foram parar lá? Não foi mamãe quem as plantou... Mesmo que ela subisse numa escada enorme eu nunca alcançaria os buraquinhos de onde elas nasciam! Talvez fosse porque as avencas gostam do frio e o muro era molhado pelas chuvas constantes. As avencas, fortes, seguravam a imensidão do muro de terra.
O fascínio pelo que é bonito, correto e bom nasceu comigo. Não falo de peças, quadros ou casas imponentes não... Falo da beleza que a natureza nos dá de presente. Mamãe trabalhava muito e o fogão de lenha ficava a alguns metros do muro de avencas. O espaço entre o muro de terra forte e verdinho era mais ou menos de meio metro. Do outro lado da casa, uma pequena horta. Eu adorava o cheiro da lenha queimando no fogão. Mamãe passava roupas com a brasa que o fogão lhe dava, num ferro mais pesado que o braço dela. Fazia pão de casa, hábito que minha irmã Cecília ainda mantém na família. Hoje mamãe ganha os pães mas ainda passa sua própria roupa, com 85 anos.
Um dia ela aprendeu a fazer balas de coco, um tipo de puxa-puxa fantástico. Com manteiga e outros ingredientes que eu não entendia, a bala ia formando uma fita enorme; de início de cor marrom... aos poucos ia tomando uma tonalidade prateada, lindo demais. E eu olhando, fascinada. Depois, nossa mãe as cortava cuidadosamente, depois de um trabalho exaustivo demais. Quando acordávamos no outro dia, as balinhas estavam branquinhas como neve, deliciosas... Mamãe nos dava algumas delas e levava o resultado de seu árduo trabalho para o bar do papai, onde éramos terminantemente proibidas de entrar, a não ser para levar alguns quitutes que mamãe enrolava num pano de prato branquinho e limpo.
Enquanto eu me lembro de tudo com saudade, gostaria demais de saber se o muro de avencas ainda existe...
(Se soubesses como me machuca estar longe de ti, meu filho, algumas atitudes sequer seriam cogitadas.)”
Domingo de julho, 2011 (revisado)
Ilustrações : Muro em Pirinópolis, Goiás
e Imagem Google
Eu olhava fascinada para o muro de avencas, forte, magistral e imponente, no fundo de nossa casa. Acima do muro, do alto dos meus cinco anos, eu podia ver uma pequena parte da casa da Dona Iria, minha amiga querida e ferrenha defensora da garotinha levada que eu fui. Ficava na porta da cozinha olhando as avencas. Como é que elas foram parar lá? Não foi mamãe quem as plantou... Mesmo que ela subisse numa escada enorme eu nunca alcançaria os buraquinhos de onde elas nasciam! Talvez fosse porque as avencas gostam do frio e o muro era molhado pelas chuvas constantes. As avencas, fortes, seguravam a imensidão do muro de terra.
O fascínio pelo que é bonito, correto e bom nasceu comigo. Não falo de peças, quadros ou casas imponentes não... Falo da beleza que a natureza nos dá de presente. Mamãe trabalhava muito e o fogão de lenha ficava a alguns metros do muro de avencas. O espaço entre o muro de terra forte e verdinho era mais ou menos de meio metro. Do outro lado da casa, uma pequena horta. Eu adorava o cheiro da lenha queimando no fogão. Mamãe passava roupas com a brasa que o fogão lhe dava, num ferro mais pesado que o braço dela. Fazia pão de casa, hábito que minha irmã Cecília ainda mantém na família. Hoje mamãe ganha os pães mas ainda passa sua própria roupa, com 85 anos.
Um dia ela aprendeu a fazer balas de coco, um tipo de puxa-puxa fantástico. Com manteiga e outros ingredientes que eu não entendia, a bala ia formando uma fita enorme; de início de cor marrom... aos poucos ia tomando uma tonalidade prateada, lindo demais. E eu olhando, fascinada. Depois, nossa mãe as cortava cuidadosamente, depois de um trabalho exaustivo demais. Quando acordávamos no outro dia, as balinhas estavam branquinhas como neve, deliciosas... Mamãe nos dava algumas delas e levava o resultado de seu árduo trabalho para o bar do papai, onde éramos terminantemente proibidas de entrar, a não ser para levar alguns quitutes que mamãe enrolava num pano de prato branquinho e limpo.
Enquanto eu me lembro de tudo com saudade, gostaria demais de saber se o muro de avencas ainda existe...
(Se soubesses como me machuca estar longe de ti, meu filho, algumas atitudes sequer seriam cogitadas.)”
Domingo de julho, 2011 (revisado)
Ilustrações : Muro em Pirinópolis, Goiás
e Imagem Google