SENTIMENTO DANINHO

Quando o ódio, esse sentimento daninho que se abriga nos corações e, por vezes, de tempos em tempos exibe suas garras ferinas, domina a alma de quem odeia se torna ainda mais amargo, mais mortal. Fácil de surgir e se deixar levar pelo ondular da inconstância humana, quase sempre basta um mero gesto, aquele olhar inesperado, um esgar de desprezo sutil, uma palavra brusca, qualquer simples risco no ar pode despertar a fúria desse monstro escondido no recôndito da alma.

Diferente da maravilhosa beleza do amor, o ódio unicamente semeia a melancolia e o horror da mágoa, nenhuma alegria, ainda que mínima, nenhum gozo, nenhum sorriso. É semente que, após plantada, se espalha com a rapidez da erva daninha e vai, destruidora, corroendo a alma e o coração. O problema é que o ódio, à guisa do bandido intolerável, entra sorrateiro no âmago do espírito humano e se instala como solene líder implacável, preparando-se para desfechar seus dardos envenenados. Porque o ódio é uma dose de veneno mortal degustado lentamente por quem odeia, essa espécie de filete invisível de ira que penetra na corrente sanguínea e inicia a devastadora degeneração da nobreza humana. Então, começa a agir com o horror de seus atos cada vez mais atormentados e funestos.

É provável que o sentir a força do ódio esteja inerente a todos os seres vivos, inteligentes ou não, racionais ou não, pois o vemos alastrar-se inclusive entre os animais com a maior facilidade. Decerto por essa razão seja impossível não existir o ódio, ter alguém que um dia não odiou ou odeia, visto que o tal perverso sentimento é primo irmão do amor, e ambos caminham lado a lado no mais íntimo do âmago da existência. É até compreensivo o seu brotar repentino diante de situações extremas, pois certamente ele é sinônimo de adrenalina, como o medo, a alegria, a depressão, a saudade. O problema é que odiar provoca a mais forte das fúrias e pode levar a atitudes que certamente não seriam tomadas sem sua nefasta presença.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 30/07/2011
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