Entre o público e o privado

Existe no Brasil uma diferença perversa no que se refere ao atendimento nos serviços básicos, como saúde, educação, cultura e outros bens sociais. Já nos acostumamos com as notícias vergonhosas de mortos em filas de hospitais aguardando vagas, de tratamentos diferenciados dentro de uma mesma unidade de saúde quando envolve o pagamento ou o atendimento pelo SUS ou outros planos do funcionalismo público, de atendimentos precários, erros médicos e tantas outras consequências geradas pela negligência, quando se trata de atender os mais pobres.

Mas quando se trata de educação, nós, que somos da rede pública, nos revoltamos. Cada um de nós procura com os poucos recursos que tem, oferecer o melhor numa sala de aula, apesar da nossa desvalorização cada vez mais gritante. O suor do nosso rosto já não escorre apenas pelo esforço de desenvolver uma aula, de cumprir uma missão ou honrar a nossa profissão. Hoje o esforço maior é fazer com que nossos jovens se concentrem na sala de aula, valorizem a educação que recebem e que erroneamente, entendem que é de graça. Muitos ainda entendem o público como ação do estado e não como administração do dinheiro que juntos pagamos para termos direito aos bens essenciais para uma vida digna e ascensão profissional. E o que temos visto anos após anos na sala de aula são nossos jovens alienados nos seus direitos, escarnecendo do esforço de seus professores em fazê-los capazes de enfrentar a luta para que essa ascensão e essa dignidade sejam alcançadas.

Estou fazendo essa análise porque recentemnte forma divulgados os resultados do ENEM e mais uma vez, houve um grande distanciamento entre os resultados da rede privada e rede pública. Os alunos de escolas particulares estão muito acima da média dos alunos da rede pública. E ao ler esse resultado, muitos dos nossos pais questionam a competência de quem está na rede pública, recaindo o ônus do fracasso sempre em cima do professor. Como sempre atuei nas duas redes, sinto-me obrigada a defender os meus colegas do estado. Os alunos da rede particular na são melhores que os alunos da rede pública. Existem na rede particular alunos com as mesmas dificuldades da rede pública. Até os professores, na sua maioria, são os mesmos atuando nas duas redes. Então qual a diferença? A diferença está na postura do aluno na sala de aula, na participação dos pais como o desenvolvimento de seus filhos, acompanhando e dialogando com a escola sobre o seu rendimento. Pai de escola particular está sempre ali, presente, defendendo o recurso que emprega visando o lucro, que é o sucesso de seu filho. Enquanto isso, na rede pública, a maioria dos pais entregam seus filhos à própria sorte e por entenderem que o público não tem gastos, não acompanham o investimento no aluno. Só buscar resultados não é acompanhar um processo educativo. Portanto, caros colegas da rede pública, não se sintam denegridos em sua imagem por serem professores de uma rede cujos resultados ainda vão demorar muito para sobressair. Escola, assim como qualquer empresa, se quer ter sucesso tem que investir no seu quadro de pessoal com treinamentos contínuos e incentivo profissional para que que o seu produto tenha bons resultados. Se o estado não se preocupou até hoje com isso e a nossa sociedade aceita o fato de braços cruzados, é porque os sonhos de nosso povo ainda são pequenos e ele ainda não aparendeu a acreditar na potencialidade de nossos jovens estudantes. Infelizmente ainda se contentam em estudar apenas para o gasto.

E o pior, achando que não gastam.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 29/07/2011
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