O REFÚGIO DA VERDADE.
"A verdade, quando impedida de marchar, refugia-se no coração dos homens e vai ganhando em profundidade o que parece perder em superfície… Um dia, essa verdade obscura, sobe das profundidades onde se exilara e surge tão forte claridade, que rasga as trevas do Mundo".
(Rolão Preto)
O refúgio é um lugar qualquer onde alguém se esconde de uma realidade qualquer. Aqueles que lutaram pela democracia no Brasil, quando se viram acuados pelo regime ditatorial do AI-5 (Ato Institucional n. 5 - Ditadura Militar de 1968), procuraram refúgio em outros países, entretanto, mais tarde, quando retornou a democracia receberam anistia e voltaram para o torrão Natal.
Falando assim, parece que vou discorrer sobre política ou algo assim. Ledo engano! Só estou querendo falar de futebol. Alguém poderia dizer: - Não há sentido algum comparar regimes políticos com futebol! É verdadeiro o raciocínio. Entretanto, não se esqueçam que o título desta matéria fala em outro sujeito, qual seja: a verdade.
Assim, a realidade é de que no nosso futebol a verdade está refugiada. Então, alguém perguntaria: - MAS AONDE ELA SE REFUGIOU? Está aí uma grande indagação que tantos os brasileiros que gostam de futebol, como os críticos da nossa mídia esportiva deveriam se questionar diuturnamente, para acharmos uma resposta satisfatória para as nossas decepções da Seleção Canarinho nos últimos compromissos oficiais.
Eu, na minha modéstia opinião arrisco dizer que o REFÚGIO a que me refiro está num fundamento apenas, com o qual os técnicos tem se garantido para alcançarem resultados, conquanto em evidência em nosso país uma nítida entre safra, já que passamos por um tempo de renovação e os nossos atuais craques ainda não deslancharam na seleção brasileira. Assim, com o cargo á deriva e reféns dos resultados, os treinadores optam pelo futebol ‘retranqueiro’. Aliás, horrível de se ver! Usam esquemas de ‘guerra’ no meio campo, enfatizando a presença maciça dos chamados ‘volantes’ que enfeiam o futebol, já que na maioria, são jogadores que só sabem desarmar, mas, quando têm a bola nos pés nem sempre dão ensejo a boas jogadas. São os chamados “carregadores de piano”.
Mas, ainda não cheguei onde quero!
Todos os internautas que gostam de futebol devem ter visto o futebol vistoso apresentado entre as equipes do SANTOS x FLAMENGO nesta última quarta-feira. A mídia Nacional tem demonstrado efusivos aplausos ao futebol altamente técnico desenvolvido entre essas duas equipes. Louvores ao exemplar elenco do time do Peixe, que possui jogadores que fazem retornar a arte de jogar bola. O Flamengo também demonstrou que possui um elenco privilegiado em termos de craques. Falamos de gerações diferentes, já que o Flamengo conseguiu reunir um elenco de jogadores mais experimentados, mas, que reúnem alto nível técnico, exemplo disso é o retorno das boas atuações do glorioso Ronaldinho Gaúcho. Já, o Santos (com jogadores mais novos), agrega um elenco de jovens de grande futuro, eis que tanto Neymar quanto Ganso são cobiçados por times do Primeiro Mundo.
Entretanto, não pensem vocês que tais times na mão de ‘retranqueiros’ iriam apresentar aquele futebol que fez retornar o brilho na pupila dos torcedores. O Flamengo é um time ofensivo, com jogadores que vão ao ataque e arriscam o gol. A equipe do Santos não é diferente, pois, seus atletas gostam de ir pra frente, ocasionando dribles desconcertantes nos defensores. Os dois treinadores: Murici e Luxemburgo não abrem mão desse lado lúdico do futebol arte. Preferem levar gols de que abrir mão da tentativa de criar as oportunidades para o gol. O Flamengo confirma o dito popular: “A melhor defesa é o ataque”.
O jogo desta última quarta-feira demonstrou que nosso futebol está apenas refugiado nas mãos de treinadores que não querem perder o emprego, já que os empresários que retém o direito de negociar os atletas dependem dos resultados das equipes para dar holofote ao seu ‘produto’ de ouro que é o jogador de futebol. Exemplo dessa escassez do futebol arte foi a última Copa América, onde houve um número irritante de empates. Entretanto, quem ganhou a competição foi a equipe que conseguiu demonstrar um futebol mais vistoso e cheio de alternativas de gols.
Jogo como este entre FLAMENGO x SANTOS, que sem sombra de dúvidas figurará entre os melhores deste certame Nacional, serve de alerta para que o torcedor possa enxergar que nós aqui na América do Sul perdemos a nossa identidade, já que abrimos mão de vermos os gols, para abrirmos espaço ao futebol truncado, de muito preparo físico, mas, de poucos gols. Para os treinadores atuais é preferível sair de campo com um Zero X Zero do que arriscar perder o emprego.
Sou um santista declarado. Nutro, simpatia, também, pelo Flamengo lá no Rio de Janeiro, mas, entre os dois, fico com a equipe alvinegra. No jogo da última quarta-feira confesso que a derrota não me trouxe desalento. Ao contrário, mesmo tendo o Peixe perdido o jogo e propiciado uma virada histórica para o Flamengo, fiquei com a sensação de que não foi demérito algum essa derrota, já que os dois times jogaram um futebol de alta categoria e venceu aquele que soube melhor aproveitar o talento dos seus craques. No meu ver, venceu a experiência e a esperteza de um jogador inteligentíssimo como é o caso do Ronaldinho Gaúcho que abriu mão das suas noitadas para poder brilhar novamente no futebol Tupiniquim.