Sonhos

Até então tivemos outro dia típico. Um daqueles que se perdem no tempo e não fazem falta. Mas a paciência talvez seja um dos valores mais estimados entre nós. Até que a noite acabe haverá esperança de ocorrer qualquer coisa em nossas vidas e então o dia nascerá e com ele se renovará a nossa virgília.

Mas dessa vez John, Zé e eu tiramos a sorte grande. Entre uma esquina e outra em nosso bairro além do quadro da nossa sociedade moralista também encontramos becos sujos e fedidos que se tornam casas aconchegantes e seguras para os que não tiveram a oportunidade de jogar conosco. Em suma.

— Bartuka, é ouro cara.

— Quê?

— Olha ali, é ouro!!

— Não acredito !! – disse Zé.

John num pulo olímpico saltou sobre o objeto e o agarrou como se estivesse disputando sua alma com o próprio diabo.

— Mas o que é isso Zé? – eu disse.

— Não sei cara, mas vamos dar um jeito de vender isso e comprar algumas coisas.

— Pode crer Zé, deve render alguns trocados esse treco.

A aparência do objeto era simples quando vistos com olhos distantes e bem alimentados. Mas naquela ocasião o que viamos era a oportunidade de conseguir o sonhado alimento. Reluzia, mas estava sujo. Zé o carregava no colo como um belo bebê e eu sorrira dizendo a mim mesmo que ele já era pai só faltava-lhe o filho.

— O quê tá fazendo, Zé? – perguntou John.

— Essa merda tá suja e olha só isso… NÃO LIMPA !

Zé era um sujeito cheio de manias, limpeza era uma das mais engraçadas porque vivíamos no meio mais podre possível da cidade e se fosse do lixo que eu estivesse falando uma boa faxina seria o suficiente, mas para limpar essas almas todas só o senhor Jesus mesmo, rezo para que ele tenha um bom alvejante a disposição.

Zé tirou a camisa e começou a polir a peça.

— Para com isso cara, se formos roubados você vai ver só – disse John nervoso e envergonhado da aparência franzina do amigo.

— Relaxa que a rua tá vazia.

— Ok, alguém conhece algum lugar para vendermos isso aí?…Alguém?…. Hey.. !!! – gritei.

Por um instante ambos estavam atonitos com os olhos fixos no horizonte. Me virei para encarar aquela cena e simplesmente não podia acreditar.

Um gênio !

Ouvira dizer que eles saiam de lampadas mágicas, mas de “triângulos arredondados misteriosos” era a primeira vez. Ele sorria.

— Olá amigos, eu me chamo Elder !

A priori ele parecia um personagem do Super Mario World ou até mesmo um gnomo perdido de alguma favela das redondezas. Não faziamos ideia do que fazer, tão imbecil do que acreditar naquela situação era não crer.

Zé se adiantou.

— Temos direitos a pedidos?

— Sim, realizarei um desejo de cada um de vocês – disse o cômico gnomo Elder, primo de Mario.

Um sorriso enorme cresceu no rosto de todos, não venham dizer que foi por falta de adubo. Eu tinha certeza do que John e Zé pediriam. ” Dinheiro e Mulher”. Eu conhecia o suficiente aqueles dois. Poderia abdicar de meu desejo caso não exigissem suas deusas banhadas a ouro e rubi.

Então John perguntou hesitante:

— Podemos pedir qualquer coisa mesmo?

— Sim, riquezas, amores, prazeres, etc.

Zé não hesitou:

— Quero dinheiro, muito dinheiro, quero sacos de dinheiro e quero agora.

— Muito bem meu garoto que assim seja.

Um saco de dinheiro surgiu próximo ao Zé que indignado retrucou:

— Mas eu quero muito mais, muito mais !!! – disse ensandecido.

— Sinto muito, mas isso é tudo o que você conseguirá carregar. Deveria ter ponderado melhor o seu desejo. Próximo.

John então bem pensativo e certo de que iria ficar milhionario disse:

— Eu quero ser o cara mais sortudo do Mundo, tudo o que eu fizer dará certo. Serei o mais sortudo do Planeta!! Com tanta sorte dinheiro será consequência!

— E que assim seja. Presenciem o sujeito mais sortudo do mundo.

John não havia pensado que para conseguir tudo o que ele queria além da sorte ele precisaria de oportunidades e competência. Ou talvez um dos dois. Imediatamente se aborreceu por não perceber nenhuma mudança drástica em si mesmo.

Ninguém havia tentado salvar o mundo, tornar-se super-herói, alterar a realidade dos famintos e desolados ou assegurar nossos lugares no paraíso, não se preocuparam nem em saber se há realmente um paraíso. Diante do pecado mor a imagem do inferno era tão bela quanto nossas futuras esposas.

Eu estava bem decidido, também não sou nenhum filantropo e tenho de admitir que não passo de mais um egoísta vivo no Mundo. Mas meu desejo era único e talvez o gênio já até soubesse. Meu irmão chutaria que eu iria pedir para desenvolver a habilidade do teleporte, mas talvez algum dia outro sujeito conseguirá por si só, confio em nosso potencial.

— E você garoto, já sabe o que vai pedir?

— Sem dúvida senhor Elder. Eu quero ser um homem simples.

Bartuka
Enviado por Bartuka em 29/07/2011
Reeditado em 17/11/2012
Código do texto: T3126739
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.