Nossa juventude
Na minha época, as atitudes eram infantis, os olhares curiosos, a pureza idealizada. Tantos eram os medos, as dificuldades, as tentativas de uma vida mais livre e esfuziante que a adolescência mais parecia um bicho de sete cabeças.
Salada mista a brincadeira mais picante, “sinistro” a gíria que acabávamos de aprender, cadernos que tentavam descobrir segredos eram o auge da animação. Que saudades da minha época.
Prevíamos o futuro como quem participa de uma brincadeira de criança, escolhendo a idade mais agradável para casar e ter filhos ou a profissão mais amada. Só esquecemos de prever que a inocência um dia ia acabar.
As previsões já não funcionam mais. As crianças de ontem, adultos de hoje, permanecem catatônicos com os adolescentes de uma nova era, seres independentes que pertencem a uma espécie de juventude sem limite, fomentada por pais culpados e extremamente generosos; uma juventude que tudo tem e nada se pode deixar de ter.
A adolescência mudou. A ansiedade quase infantil de outrora cedeu espaço a desrespeitos com o próprio corpo, com os próprios sentimentos e com o outro, seja ele pai, mãe, professores ou vizinhos.
Estamos formando uma geração egoísta, que pouco ajuda e que muito cobra, que pouco dá em troca e que muito quer, que pouco estuda e que muito nada faz. Estamos formando jovens relapsos com o próprio futuro, que acham que tudo já está pronto e exposto, que nada precisam fazer para sobreviver e ir em frente, a não ser sugar só um pouquinho mais o sangue alheio. Têm força sim, melhores meios de viver e batalhar pelo que acreditam, mas que não sabem usar isso em proveito próprio.
Adolescentes que crescem, se tornam jovens e adultos que continuam na casa dos pais, eternamente debaixo da asa materna que, muitas vezes, adora e estimula a super proteção. Uma geração de pais e filhos carentes que mal se vêem pela correria do dia a dia, mas que mutuamente se cobram e se alimentam do mesmo processo.
Que saudades da minha época!