ESSE AMOR TÃO LOUCO

 


 

Minha Pepê passou uns tempos mais sossegada, eu podia abrir a porta e sair sem confusões. Ela vinha correndo, é claro, mas já não pulava em cima de mim como antes. Várias vezes chegou a me seguir até o portão andando ao meu lado quase comportada. Mas de uns dias para cá teve recaída. Está impossível! É só eu aparecer, sou recebida com efusivos abraços e beijos. Nas mãos, no ombro, no rosto. Para empurrá-la tenho que fazer força, o que às vezes até me deixa com dor nas costas. Minhas mãos e pulsos estão sempre arranhados por suas unhas e dentes afiados. O único momento em que consigo fazer-lhe um carinho é na hora da comida. Entretida com a ração, ela gosta do agradinho. Depois não quer sair do terraço, então vou para o jardim lavar sua vasilha. Ela vem feito bala beber a água corrente. Eu nunca tinha visto um cachorro fazer isto. É até engraçado, eu abro e fecho a torneira e ela fica ali de boca aberta, saboreando... Prefere assim aos dois potes ‘bebedouro’ de todos. Ela os morde tanto que estão reduzidos à metade.

 

Minha filha quando está aqui tenta educá-la, diz que eu não sei ensinar. Fica dois dias e vai embora pensando que é muito fácil. Meu marido segue as instruções do mexicano ‘encantador de cães’: estende as mãos em sinal de ‘pare’, olha bem para ela e manda ficar quieta. Ela obedece. Eu vou e faço a mesma coisa. Não acontece nada, ela pula em cima de mim no ato! Eu grito, ela pula. Ela pula, eu grito. Grito mais alto, ela pula mais alto, e se enrosca em mim de tal maneira que por pouco não me derruba...

 

Como fui eu que cuidei dela desde pequenininha, chegamos à conclusão de que ela vê em mim a figura da Mamma, por isso me devota esse amor tão louco.