Informativo transformativo?
Lá está a entrevista televisiva com motoristas em plena rua. O coitado do jornalista está diante de mais de uma situação emblemática para a profissão. Cena digna de nota por acolher toda realidade em poucos segundos de imagem. Essa rapidez e esse dinamismo informativo pouco contribui para mudança dos fatores em questão. Vamos ao fato. Uma escola e os motoristas estão impedindo o fluxo do trânsito em frente para deixarem seus filhos na fábrica de cerebração. O jornalista faminto de certeza chama a primeira mulher do carro que detém o fluxo do trânsito na frente da escola para lhe perguntar a queima roupa: a senhora não sabe que está impedindo a passagem dos demais? Nesse momento todos se livram dos filhos na porta da escola. A mulher explode a verdade com grande força de caráter: O senhor tem alguma ideia melhor? Tem alguma solução? Recurso técnico para fugir dos fatos e permanecer em foco. Troca de imagem e outras infrações são devidamente pontuadas.
O jornalismo no tempo do papel criava uma mentalidade reflexiva porque ler tem essa essência implícita e isso foi antes da imprensa se moldar no compromisso emboçalador do mercado competitivo. O mercado competitivo é desumano até nos hospitais. Neste ponto a imprensa televisiva posa de Estado, faz seu poder com imagem certa ideia de mundo prenhe na cabeça do indivíduo sem cursinho de reflexão. Só que desta vez o repórter estava diante de uma escola sem nenhuma resposta para oferecer. Há algo nas leis de trânsito que é a prova da relação entre todas as leis e todos os homens. Ninguém repara que o carro como objeto lançado no espaço não é inteiramente dirigível. Esse fenômeno desprezado recebe da lei uma evidência oculta. Numa faixa de segurança é bem mais fácil parar um homem de noventa quilos do que um carro de oitocentos quilos. A gente sabe quando o objeto lançado não tem condições de atingir o alvo e vice-versa. A lei é inútil porque não se trata de esforço intelectual, moral ou mental. É uma ocorrência física na prática de máquina. Na frente das escolas os carros fatalmente se alinham um atrás dos outros para deixararem lá os pestinhas do futuro televisivo. É sobre este fator oculto que a verdade se espreguiça e guia seus louvores. Acima de oitenta quilômetros por hora o objeto lançado na estrada diminiu a capacidade dirigível do motorista que se ilude quanto ao fato porque a priori não perdeu ainda a magia da direção. Ele direciona o objeto, porém não está com total capacidade dirigível. Ele dirige e logo só é lançado. Assim como os carros os deuses da comunicação sentaram sobre as pedras do Olimpo e começaram a entupir o cérebro humano de coordenadas. O Estado é a televisão, os jornais, as novelas e se ocupam em repetir os erros sociais da conjuntura para o indivíduo. O cidadão acaba acreditando que sabe sem compreender dentro do efeito mundificante de tanto trabalho mental. Ele espera que os meios instantâneos de mídia resolvam os problemas que ela mesma insite em repetir. A TV quer algo dos indivíduos que é tudo menos a profunda reflexão sobre todos os assuntos resumidos na grande feijoada quotidiana.
Tanto o carro quanto os seres humanos estão diante da escola, enfileirados. Todos precisam desobeder as placas de trânsito para deixar seus filhotes ao encargo mental de terceiros diante da escola. Escola é o lugar onde se fabricam parcelas bem sucedidas para lucrar sobre reprovados desfavorecidos para o resto da vida. Como nunca serão inteiramente dirigíveis será preciso envolvê-los na caríssima vascularidade das leis até a vedação completa da liberdade diante de uma nova carga de brutalidade legitimada: cadeia. Basicamente a teoria da informação devia concentrar seus esforços no estudo do “efeito da toxoplasmose”. Irrefletidamente a comunicação é um parasito infectado pelo toxoplasma. Zumbinismo informativo.
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Enquanto isto o Detran continua diariamente ganhando na loteria com o teste de varetas das balizas. Para que carro que é carro continue sendo pouco dirigível diante de tanta placa, lei, carteira provisória, além de loucos na condução.