Casebres

Casebres

A casinha de taipa á beira da estrada é como uma velha mala de couro escancarada ao sol a derramar lembranças, e o ar quente do tabuleiro seco á entrar pelas portas e janelas abertas, tal qual bocas famintas.

Os muitos rastros há tempos cobertos por uma grossa camada de poeira amarelada e fina esconde, mais desesperos e agonias que do alegrias, e nos fundos estão os únicos habitantes e guardiões do fortim abandonado, sob o sol do tabuleiro a tremeluzir.

As inscrições garatujadas á ponta de faca nos braços das cruzes toscas e despencadas só dizem; Zefinha e Tonho. Sob o lençol de terra ressequida e amarelada descanção os dois pequeninos guerreiros, de historias tristes e curtas.

Pelos pés de paredes, nas sombras somente Calangos esquálidos se esgueiram devagar fugindo do sol. Uma vez na vida outra na morte, um ente resolve descansar um pouco e altera a paisagem do lugar por uns instantes.

As casas de taipa abandonadas pelo sertão são como chagas abertas a mostrarem a incompetência das nossas autoridades, em fixar o homem na sua terra.

E vão se embora os Severinos e morrem as Zefinhas e os Tonhos nestes sertões ensolarados.

A noite uma coruja perdida observa da cumeeira da casa a vastidão erma, a espera de uma duvidosa refeição, a friagem da noite espalha o mormaço do dia e trás para uma reunião uns personagens conhecidos nossos como; Saci-pereré, Mula-sem-cabeça, Fogo-fátuos, Lobisomens e Almas penadas, porque depois de algum tempo abandonadas essas casas ficam mal assombradas, pelo menos é o que reza o ditado popular.

Os casebres do meu sertão ainda guardam sonhos esquecidos, mas que afloram aos primeiros respingos de uma chuva passageira. Dando vida nova as algarobeiras, mandacarus e fortalecendo o verde amarelado dos pés de velame e avelós, e ao passar deixa um novo quinhão de esperança no peito dos Severinos, que teimam em ficar por aqui com seus barrigudinhos "hisdropi", as Zefinhas e os Tonhos. Que talvez não alcancem a próxima chuva e vão descansar nos fundos do casebre, numa cova rasa sob o lençol de terra ressequida.

Descansem em paz.