Levante-se do seu caixote
Você já parou para pensar em sua própria vida? Parece algo bem difícil em tempos nos quais as redes sociais borbulham trazendo sempre novidades da vida alheia. Porque, venhamos e convenhamos, na vida dos outros sempre temos um tempinho para pensar e comentar, enquanto a nossa vai passando como um filme diante dos olhos, antes que a disposição avance no sentido de realmente fazer alguma coisa.
Não que se precise ser feito algo sempre. Mas é inegável que perdemos, durante toda a vida, excelentes oportunidades de mexer as peças do tabuleiro a nosso favor. Contraditório.
Enquanto alguns preferem se esconder por detrás desse ritmo louco e frenético, outros — infelizmente ou felizmente me encaixo nessa categoria — se sentem mais à vontade com a turbina de questionamentos ligada a todo vapor.
Pensava exatamente nisso quando, num dia como outro qualquer, me deparei com uma senhora maltrapilha sentada em um caixote de madeira na calçada. Com umas bugigangas à frente, ela tomava um picolé e parecia fixar o olhar no horizonte, na longa espera do dia. Mais um dia como tantos outros. Mais um dia sem perspectiva, mais um dia interminável.
Fui tocada por aquela cena de maneira inexplicável. Algo me aproximava daquela senhora, minha identificação com o sentimento que traduzia aquela situação era clara.
A minha vida não era muito diferente. Eu não era muito diferente. Longa espera do dia, olhar fixo no horizonte, mais um dia como tantos outros. Quantas vezes eu havia me pego olhando pela janela do escritório pensando na vaga esperança de estar do lado de fora vivendo. Simplesmente vivendo. Porque, pra mim, o fato de estar ali me trazia uma espécie de insatisfação existencial, doía na alma. Era uma inacreditável perda de tempo e de sentido.
Aquela não era eu. Não na minha essência, assim como aquela senhora maltrapilha com olhar perdido no horizonte, a minha esperança era que um dia não fosse mais igual ao outro. A minha esperança era libertar minha mente para escrever tudo e tanto quanto fosse possível, sem amarras e sem compromissos.
Assim como eu, imagino quantas pessoas (você, talvez) desejam se libertar, enfrentar novos desafios, seguir por outro caminho. Isso não me conforta, muito pelo contrário, me instiga a enfrentar, a seguir em frente buscando novas alternativas. Que levantamos de nossos caixotes e tenhamos forças para mudar o caminho.