Matar a fome ou dela morrer: breves palavras sobre a caótica situação da Somália
Herick Limoni*
Um dos melhores prazeres da vida consiste em saborear algo do qual se está com muita vontade de comer. A gestante, ainda que de forma inconsciente e estranha, sente desejo de comer algo, pelo simples fato dessa vontade ser uma necessidade natural. Ao contrário, acredito – por graças a Deus não haver sentido na pele – que não há nada pior do que sentir fome sem que se tenha esperança de saciá-la, e é sobre isso que gostaria de discorrer.
O continente africano – por alguma razão (des)conhecida – há anos padece desse mal. Mas não quero abordá-lo como um todo, mas apenas um de seus países: a Somália. A Somália é um país localizado no chamado Chifre Africano, cujo povo vem, ao longo de muitos anos, sendo dizimado por uma guerra civil e, principalmente, pela Aids e pela fome. Ontem, apesar de sabedor da realidade vivida por aqueles que lá habitam, não pude deixar de me emocionar ao assistir ao programa Conexão Repórter, do SBT, comandado por Roberto Cabrini. Foi difícil ver a imagem de pessoas esqueléticas, cuja única ocupação era espantar os mosquitos – que deles se alimentavam – e aguardar o último suspiro, eufemisticamente falando. Mas o pior de tudo foi ver as crianças, e não há nada que possa nos comover mais. Com toda a fragilidade e dependência que lhes são peculiar, as crianças são as que mais sofrem com o flagelo da fome. Sem ter o que comer e sem a força corporal e psicológica dos adultos, muitas delas não chegam a completar os dois anos de idade. E a continuar assim, não causará espanto se essas comunidades deixarem de existir em breve, pois a perpetuação da espécie, nesses locais, encontra-se amplamente ameaçada. Confesso que, ao final, encontrava-me com um “nó” na garganta e com um tremendo sentimento de impotência. Passei a me indagar sobre o que poderia ser feito, e comecei a me questionar sobre o porquê de não haver, até então, uma conjugação de esforços entre as nações em socorro ao continente africano. E a ONU, para que serve? E o UNICEF? Será que eles não sabem da realidade das crianças africanas?
Peguei no sono e não encontrei a (s) resposta (s). A única certeza que tive é que, se nada de muito concreto for feito para resolver o problema da fome no continente africano, daqui a pouco seremos incomodados pelos mosquitos de lá, pois, não tendo mais africanos para comer, terão que mudar de dieta, e também de continente.
* Bacharel e Mestrando em Administração de Empresas, com ênfase em Criminalidade e Segurança Pública