A FLORESTA ENCANTADA

Era uma vez um menino órfão.
Agora, ele estava só e achava muito estranho seu traje que parecia uma camisola branca e suas sandálias de couro cru.
À sua volta, nada tinha contornos definidos, era como se uma rala bruma o envolvesse e emitisse uma opalescente luminosidade, mas logo à sua frente divisou uma floresta e para lá se dirigiu. Parou no seu limiar e teve medo, porém logo uma harmoniosa voz chegou a seus ouvidos, vinda não se sabe de onde - talvez de dentro dele mesmo - e sussurou: - Não tenha medo, menino. Entre, entre, e siga a trilha. Nada tema porque esta é uma floresta sem perigos; seus leões não têm dentes; suas cobras jamais tiveram peçonha; seus elefantes são bem pequenos, rosados e voam, como o Dumbo; seus rinocerontes são bem humorados, e amigos, como o Quindim do Sítio do Pica-pau Amarelo; seus mosquitos são vegetarianos; suas abelhas só se preocupam em beijar as flores, produzir mel e, há muito, abandonaram os ferrões; seus escorpiões desprezaram os aguilhões; mas as borboletas, os pássaros , as flores e as árvores são exatamente iguais aos que você conhece.
No caminho, você vai encontrar a chuva, mas será breve e muito leve: nada de enxurradas que tudo levam, nada de relâmpagos e trovões e ventos, apenas o suficiente para saciar as plantas e nem será bastante para alterar a calma dos regatos, que continuarão seu caminho, cantando sobre os seixos, límpidos, serenos... Vá, vá, é só seguir a trilha que o levará, em segurança, até o seu destino.
E lá se foi o menino que, apesar do conselho, olhava de um para outro lado da trilha, desconfiado, temeroso e esperando a qualquer momento uma surpresa desagradável, o que, afinal, não aconteceu.
Ao cabo de algum tempo relaxou e passou a apreciar a beleza à sua volta. Algumas cobras atravessaram a trilha e, calmamente, reentraram na mata; um ou dois Dumbos passaram rasantes, mas o que ele gostou mesmo de ver foram as borboletas (para onde vão as borboletas quando chove?) , as flores e os pássaros multicoloridos e as enormes árvores que abriam suas copas lá no alto, como um dossel, e cobriam de sombra a vereda que trilhava.
A chuva veio, sim, como lhe fora dito e, também como ouvira, foi mansa, refrescante e muito, muito silenciosa e o som que lhe chegava aos ouvidos era só o dos pingos caindo sobre a ramaria.
Muito mais tranquilo, Pedrinho (era esse o seu nome) sente-se extremamente bem, feliz e, muito alegre, ensaia um assobio e percebe-se que a melodia é aquela universalmente conhecida : "eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou", cenário que ele completa com ágeis pulinhos de um para o outro lado da trilha.
Depois, cansado, retoma o passo normal , segue viagem , mas não sem pensar porque estava alí e para onde ia.
Percebeu que, à medida que avançava pela floresta, quase imperceptivelmente. a claridade ia desfazendo a penumbra e o horizonte cada vez mais parecia próximo .
Pedrinho acelera, instintivamente, o passo. Quase corre. Vence a última etapa e - que enorme felicidade - atira-se nos braços afetuosos dos seu pais!
paulo rego
Enviado por paulo rego em 28/07/2011
Reeditado em 19/09/2011
Código do texto: T3124155