QUAL É A MAIOR FORÇA DO MUNDO?
De agnósticos a crentes, de cientistas ateus a homens de fé, todos tiveram em mira o bem do ser mais excelente da natureza, o homem. Até mesmo os que não entenderam que o maior bem do homem, mesmo antes da vida é a liberdade, direito natural, pois nada vale a vida sem liberdade, nem sob pretexto de sabor justificativo do coletivismo.
MAS EM TODOS OS DOUTRINADORES IDEOLÓGICOS EXISTE UM HIATO NA CERTEZA DE UMA REALIDADE CRUA. TRATAM DA MATERIALIDADE SEM NELA INSERIR A INTERIORIDADE HUMANA, SEU COMANDO PRINCIPAL, EMOÇÃO, SENTIMENTOS, A VOLIÇÃO, O INSTRUMENTO PRINCIPAL DO CONVÍVIO, O ATO DE VONTADE. SÓ O MERCADO E A SOCIOLOGIA SÃO ELEMENTOS DE SOCIABILIZAÇÃO, MEIOS DE POLÍTICAS SOCIAIS. A VONTADE, EIXO MAIOR DA HUMANIDADE, ESTARIA AFASTADA DO CONTEXTO.REGULADA SOMENTE PARA DELITOS.
Certa vez, em conversa coloquial em reunião de amigos, a mulher de pessoa que considero um irmão, por todos os motivos, de alta percepção valorativa, me indagou: o quê você acha que manda no mundo?
Respondi, usando a “maiêutica” socrática, perguntando? O que você acha?
Ela, pessoa informadíssima, professora de alto nível, respondeu, em razão de seus pendores e preferências, que era a cultura. Disse então que seria ótimo se fosse assim, logo que haveria o predomínio da consciência, maior tribunal da humanidade dos conscientes, pois queiram ou não, os homens todos conhecem o certo e o errado, o que em princípio se alia ao que é justo em exteriorização de atos, atitudes, vontade enfim.
A opinião, vontade exteriorizada, se ajustaria pela civilidade ao que é harmônico e serve a todos. O que deflagra o injusto? Aquilo que vai além do que lhe cabe, disse a ela.
Mas a força do mundo, acrescentei, não só atual como em todas as épocas, desde os primórdios, era e é a propriedade, enfim o capital, a materialidade, a dominação, o lucro. As riquezas materiais dominavam o mundo e o dominam até hoje, são sua maior força. Aditei exemplificativamente a razão contemporânea.
Apontei a ela Wall Street. Pequena ruela em Nova York, onde de braços abertos quase se encosta nas paredes opostas dos arranha-céus que buscam no espaço as fraquezas das moedas de países que querem emergir. Em poucos minutos derrotam economias inteiras como fizeram , tempos atrás, com tigres asiáticos e ameaças iterativas ao Brasil e outros países.
E Wall Street tem essa meta como filosofia absoluta; o lucro, diga-se, infelizmente o norte da humanidade, sua seta efetiva. Inimportam humanidades, iluminismos, conquistas históricas do pensamento como a revolução francesa, bússola dos tempos para as liberdades ou os direitos humanos ditados pela ONU, de forma politizada e por isso irrealizados, hipócritas. A cultura está em outro plano, tem fronteiras definidas e alcance restrito, embora por mecânicas próprias, em determinadas épocas, seja alicerce de Estados. Mas a força que move materialmente a sociedade é o capital, as riquezas materiais, a dominação dos mais fortes, os monopólios e oligopólios.
Por trás dessas forças, o homem, contraste imenso; o que seria a finalidade de um bem para si, ser humano, impulsionando o que seria o mal de si mesmo.
As razão de meu permanente entendimento vê no homem uma pessoa e não um individuo, com vontade além do que é material. Os homens e os Estados, todos, sem exceção, poderão iniciar o processo da igualdade com liberdade. Tenho por convicção inabalável de que para começar a entronizar a aproximação do Estado com esses valores maiores, através da cerebração limpa e pura de todas as correntes, é preciso despojarem-se os condutores dos destinos dos povos de posições radicais e pessoais, v oltarem-se para o arcabouço humano como surgido, o homem como pessoa e não só cidadão político.
É preciso cuidar do ato político como “ato de vontade” do representado não só como ato de representação meramente coletivo. Há visível e claro somente uma faceta que se amolda “à perfeição” ao objetivo comum pelo “ato de vontade”: a ausência de egoísmo. É o que se busca.
SERIA FALAR EM VÃO, DESCONHECER A NATUREZA HUMANA? EM TESE SIM, MAS É A ÚNICA SAÍDA JÁ QUE TODAS AS OUTRAS FORAM EXPERIMENTADAS E FRUSTARAM-SE. É VIÁVEL? ACHO QUE PODERÁ SER E SERÁ, EM PROCESSO HISTÓRICO, EMBORA LONGO E SOFRIDO.
Quando se fala, afirmativamente, em ausentar-se o egoísmo, acorre universo gigantesco de despojamento a começar pelo não enriquecimento sem causa, ilegítimo porque fraudado sempre, nunca escorado em valores pessoais, talentos próprios ou no trabalho, até à renúncia de amealhar-se um pouco mais do monte que retirará do necessitado o pouco que é muito.
Nesse corolário de tantas causas que despontam e avultam pela cobiça e pela vaidade, patamares onde se engalanam os Estados, seus maiores cultores e arquitetos, através do ato chamado político que deixou de ser orquestração para o bem comum para ser música que só o descaminho embalado no desserviço e na corrupção ouve. Desfilamos a unicidade do pretendido bem comum, frustrado no tempo, fugidío das ideologias.
Com a cátedra de João XXIII, Papa da Igreja Católica, portanto pensador religioso, na sua famosa encíclica Pacem In Terris, aprende-se, sic:
“Em uma convivência humana bem constituida e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, NATUREZA DOTADA DE INTELIGÊNCIA E VONTADE LIVRE.” Caixa alta nossa.
Em posição diametralmente oposta, em bipolaridade, apontamos a exemplificação que não deixa dúvidas no confronto, a resistência a esse princípio alinhada por Marx (o mais acatado), Stalin, Lênin, Trotsky, e outros menos expressivos, embalados na febre da vaidade messiânica e jacobina, salvacionista, não enxergando que o homem caminha com desenvoltura e produtivamente em termos de evolução pessoal - que reflete necessariamente na coletividade - somente no espaço da liberdade responsável que a si deve sempre ser facultada, sob pena do desastre histórico dessas tolas aspirações, que na realidade são anarquistas sem anarquia, pois anarquia é ausência de Estado que desemboca na perfeição social, igualadas as classes (meta impossível), e somente assim, doutrinariamente, se pode entender.
A história demonstrou esse estágio da insciência, resistindo pequenas facções a este axioma político-ideológico de supressão de liberdade. Cuba mostra essa infeliz ideia no ocaso da realidade e nela insiste. O PAN, Olimpíadas Panamericanas, viu atletas cubanos vendendo seus uniformes, corroborando o que manifesto sobre o capital, ou seja, sucumbindo a essa sujeição inafastável e, ainda alguns desertando, a ponto de vir ordem de Cuba para retorno antecipado diante de “boato” de deserção maciça. É o que noticiou a mídia na época.
Justifico assim, e esse é meu objetivo principal, minha reiterada posição, acrescendo que a força do capital há de ser disciplinada pela mitigação do egoísmo, embora dificílima e remotíssima aspiração de uma parte da humanidade, quase onírica.
O voto legítimo é endógeno, “ato de vontade” limpo de influências que nublem de alguma forma o “gesto interior”.
O voto motivado por mecânica exógena seja qual for sua inspiração é ilegítimo. E a ilegitimidade é híbrida, do votado que tem interesse além da representação, pessoal, e do votante que se deixou captar também movido pela mesma pessoalidade.
A sustentação de todo o complexo social tem se dado na inversão de objetivos, primeiro o lucro depois o homem.
Somente o “ato de vontade” isento de subjugações externas é sadio, hígido. Só por ele se darão os primeiros passos para o afastamento do egoísmo.
Não é demais lembrar os dois antagonismos presenciais, o comunismo que retirou a liberdade por coação, e feneceu pelo absurdo ideológico de subtrair o maior bem do homem, e o capitalismo selvagem, onde o excesso de ganância levou ao cume a explosão incontida do consumo, incentivada por todos os meios e modos, sem devida regulação, o que também ameaça o homem na desorganização econômica plena e superveniente que está em curso.
É preciso que a razão supere a força do lucro. Para tanto é preciso cuidar da outra força subjugada, o ato de vontade interior e suas manifestações no mundo exterior.