Educando
 
Se não existe um método para educar pessoas que possa ser considerado o certo, por que haveria um para educar animais?

Empenhada em continuar minha missão de educadora humana achei que não haveria muito segredo para educar dois pequenos cãezinhos recentemente nascidos e lá fui eu em busca de teorias. Por certo através de uma literatura específica, como sempre faço quando quero aprender alguma coisa. Comprei alguns livros e me distraí lendo textos em revistas e na net. Apesar do tempo breve em que os conheço já descobri que na teoria a prática é outra – educar cães é danado de difícil.

Cesar Millan, mexicano residente nos Estados Unidos está ganhando mais dinheiro do que pode gastar adestrando cães. Além de sua clínica, onde atende humanos aflitos ele tem um programa de televisão e escreveu um livro sobre o assunto: O Encantador de Cães. Seu método é baseado em um tripé: Exercício, disciplina e carinho. Nessa ordem. Mas para um método funcionar é preciso um bom chefe de matilha, no caso, um humano, que poderia ser eu. Poderia? Sim, mas não posso. Moramos juntos, minha mãe de quase 87 anos e mais dois rmãos, deficientes visuais. Eles, Joca e Pongo, os meus pequenos, não têm a menor idéia obre quem realmente manda neles porque, cada um a seu modo, acha que o jeito certo é o seu. Fora os que chegam de fora e também se sentem donos. Para Val, por exemplo, que vem aqui todos os dias, mais de uma vez em cada dia, a ordem tem que ser invertida – primeiro é o carinho. Terapeuta de humanos ela busca levar os seus conhecimentos até eles, que são tratados com florais e luzes energéticas: eles dormem tendo em seu dormitório uma luz violeta para gerar boas energias. A “avó” é um misto de braveza e deseducação alimentar já que está sempre com um chicotinho de jornal na mão para discipliná-los e biscoitos para deseducá-los. Fora os que não estão o tempo todo, mas sempre voltam, cada um com seu jeito de educar. Os pequenos ganharam presentes (até vindos do exterior) como se fossem recém nascidos e fotos belíssimas foram obtidas.

Minha sobrinha Tatiana trouxe-me a revista Isto É, com uma reportagem muito interessante: Vamos discutir a relação? Levando-se em conta que, entre os humanos, relações são discutidas só quando algo vai mal, de cara desprende-se que, algo vai muito mal nas relações entre o bicho homem e o bicho cão. Além de inúmeras práticas pedagógicas e causos interessantes anuncia o lançamento de um livro no ano que vem, de John Bradshaw.O livro apesar do nome quilométrico em inglês certamente logo estará na lista dos mais vendidos, principalmente porque um dos aspectos que ele aborda vai diametralmente contra o conceito de Cesar Millan, de que o cão vê suas relações com os humanos como uma grande matilha em que cada membro busca disputar o Poder, inclusive pela violência. Bradshaw, que é um cientista de renome, alega que o a visão do cão sobre o seu relacionamento com o homem é baseado no conceito de família e de amor. Dessa forma minha atitude de chefiar uma matilha de cães vai por água abaixo, em direção a maternidade. E eu aqui me pergunto, nessa história toda, onde é que a minha cabeça vai parar? Certamente vai pirar.

Vou esperar ansiosamente a chegada desse livro, porque ele tenta responder a uma pergunta crucial: como os cães aprendem? Quem sabe encontro uma pista para ensinar os meus pequenos a lerem? Ai serei eu quem irá ganhar rios de dinheiro me apresentando em um desses programas dominicais de televisão. Ou no circo.