AMIGO rEYMARD.
O que há de novo na literatura ou na música pra se dizer de um grande amigo?
Que “é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves dentro do coração”, como na canção de MILTON? Que “é melhor amigo na praça do que dinheiro na caixa”, como no dito popular?
Ou roubar de VINICIUS um dos seus trechos belos em que ele confessa suportar a morte de todos os amores, menos dos amigos? Eis: “E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus AMIGOS! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…”
Há quem diga, ainda, que um grande amigo é um tesouro. Há quem confunda conceitos de amigo com conceitos de necessidade. Penso que não se devem fazer amigos na dificuldade, senão se constrói uma dívida de gratidão. Amigo verdadeiro a gente não sabe o dia que conheceu. Diferente do dia em que conhecemos o nosso amor e marcamos na folhinha e comemoramos! Um verdadeiro amigo a gente dificilmente sabe o dia oficial – ele entra em nossa vida por nossa escolha, diferente da nossa família que não escolhemos pra nascer nela. Talvez um verdadeiro amigo seja aquele que nos dê o que nem sabemos que precisamos. Ele sabe nos escutar, quando outros só sabem ouvir; ele nos vê enquanto outros apenas nos olham; ele sabe chegar perto e mostrar o olhar como na canção “como eu não sei rezar só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar”... Amigo não cobra nada do outro, senão vira garapa. Amigo, acima de tudo não nos endeusam nem nos acham perfeitos. Amigos, pela prerrogativa de sermos por eles escolhidos reciprocamente, tem algo de sobrenatural, senão seriam apenas colegas... De turma, de trabalho, de noitadas, de...
“Quão doce, passageiramente doce e a solidão. Mas dê em meu retiro um amigo a quem eu possa sussurrar “a solidão é doce”... Solidão de amigo é diferente da solidão de amor homem com mulher. Parece que esta tem prazo de validade, o de amigo verdadeiro não. Neste viés, novamente Milton Nascimento me socorre com maestria: “Amigo é coisa para se guardar/No lado esquerdo do peito/Mesmo que o tempo e a distância digam "não"/Mesmo esquecendo a canção/O que importa é ouvir/A voz que vem do coração (...)
Um dia um amigo me disse palavras duras.
Coloquei todas numa panela,
Levei ao fogão pra cozinhar...
Passado o tempo as palavras
Continuavam duras...
Meu amigo estava lá... Com elas.
Mas com o coração mole de ternura. (Carlos sena)
Portanto, não nos cobremos muitos amigos em volta. Se, num gesto matemático quiseres contar os amigos verdadeiros e chegar além dos dedos de uma só mão, desconfie. Amigos verdadeiros não andam por aí dando sopa. Como nem tudo são flores, há espinhos nas relações entre amigos! Bons amigos se digladiam sem perder a doçura. Bons amigos se aborrecem, pedem perdão, mas estão sempre ali. Perto ou longe, os amigos verdadeiros não nos abandonam... Só que tudo que começa um dia termina. Um dia a vida se despede de si mesma e dos amigos como conseqüência. Talvez sofra menos quem se vai primeiro, pois tudo é muito rápido, como nos garante Mário Quintana:
SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
O que há de novo na literatura ou na música pra se dizer de um grande amigo?
Que “é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves dentro do coração”, como na canção de MILTON? Que “é melhor amigo na praça do que dinheiro na caixa”, como no dito popular?
Ou roubar de VINICIUS um dos seus trechos belos em que ele confessa suportar a morte de todos os amores, menos dos amigos? Eis: “E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus AMIGOS! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…”
Há quem diga, ainda, que um grande amigo é um tesouro. Há quem confunda conceitos de amigo com conceitos de necessidade. Penso que não se devem fazer amigos na dificuldade, senão se constrói uma dívida de gratidão. Amigo verdadeiro a gente não sabe o dia que conheceu. Diferente do dia em que conhecemos o nosso amor e marcamos na folhinha e comemoramos! Um verdadeiro amigo a gente dificilmente sabe o dia oficial – ele entra em nossa vida por nossa escolha, diferente da nossa família que não escolhemos pra nascer nela. Talvez um verdadeiro amigo seja aquele que nos dê o que nem sabemos que precisamos. Ele sabe nos escutar, quando outros só sabem ouvir; ele nos vê enquanto outros apenas nos olham; ele sabe chegar perto e mostrar o olhar como na canção “como eu não sei rezar só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar”... Amigo não cobra nada do outro, senão vira garapa. Amigo, acima de tudo não nos endeusam nem nos acham perfeitos. Amigos, pela prerrogativa de sermos por eles escolhidos reciprocamente, tem algo de sobrenatural, senão seriam apenas colegas... De turma, de trabalho, de noitadas, de...
“Quão doce, passageiramente doce e a solidão. Mas dê em meu retiro um amigo a quem eu possa sussurrar “a solidão é doce”... Solidão de amigo é diferente da solidão de amor homem com mulher. Parece que esta tem prazo de validade, o de amigo verdadeiro não. Neste viés, novamente Milton Nascimento me socorre com maestria: “Amigo é coisa para se guardar/No lado esquerdo do peito/Mesmo que o tempo e a distância digam "não"/Mesmo esquecendo a canção/O que importa é ouvir/A voz que vem do coração (...)
Um dia um amigo me disse palavras duras.
Coloquei todas numa panela,
Levei ao fogão pra cozinhar...
Passado o tempo as palavras
Continuavam duras...
Meu amigo estava lá... Com elas.
Mas com o coração mole de ternura. (Carlos sena)
Portanto, não nos cobremos muitos amigos em volta. Se, num gesto matemático quiseres contar os amigos verdadeiros e chegar além dos dedos de uma só mão, desconfie. Amigos verdadeiros não andam por aí dando sopa. Como nem tudo são flores, há espinhos nas relações entre amigos! Bons amigos se digladiam sem perder a doçura. Bons amigos se aborrecem, pedem perdão, mas estão sempre ali. Perto ou longe, os amigos verdadeiros não nos abandonam... Só que tudo que começa um dia termina. Um dia a vida se despede de si mesma e dos amigos como conseqüência. Talvez sofra menos quem se vai primeiro, pois tudo é muito rápido, como nos garante Mário Quintana:
SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo... Quando se vê, já é 6ª feira... Quando se vê, passaram 60 anos... Agora, é tarde demais para ser reprovado... E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio. Seguia sempre, sempre em frente... E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
O que há de novo na literatura ou na música pra se dizer de um grande amigo?
Nada. Um grande amigo só tem esse tamanho, porque foi nossa escolha quem definiu. Um grande amigo não serve pra ser banco, nem psicanalista, nem mecânico, eletricista, nem... Ele simplesmente é amigo e pronto.
Parabéns, meu grande amigo.
eu nem olhava o relógio. Seguia sempre, sempre em frente... E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
O que há de novo na literatura ou na música pra se dizer de um grande amigo?
Nada. Um grande amigo só tem esse tamanho, porque foi nossa escolha quem definiu. Um grande amigo não serve pra ser banco, nem psicanalista, nem mecânico, eletricista, nem... Ele simplesmente é amigo e pronto.
Parabéns, meu grande amigo.