SOZINHA NO CINEMA (BVIW)
As luzes se apagam. Da tela, Al Pacino parece me fitar com seus olhos repletos de escuridão. Estarei delirando? Como pode , se seu personagem é cego? É um convite sutil e, como borboleta atraída pela luz, eu me jogo inteira no enredo de sedução e de paixão. Com meu Perfume de Mulher, extasiada, conduzo meu par ao som do tango de Gardel. Não sei onde foi Gabriele Anwar. E o que importa? A música me transporta a orgasmos cósmicos, os braços firmes do ator sustentam meu corpo e me levam aos píncaros do prazer ilimitado. Por um momento, não sou eu! Flutuo no mundo da ilusão; a realidade não tem lugar nesse cenário de magia. Até o instante em que Al Pacino e Gabriele voltam a dançar e eu, impulsionada pela rapidez do pensamento, sou "devolvida" à poltrona do cinema.
As luzes se acendem. Caio em mim. Meu corpo friorento e carente me diz que foi um sonho. Sonho de um coração sedento de amor. Desejo de mulher encarcerada na solitária prisão de um corpo estéril. A realidade sobrepõe-se à fantasia, a multidão se dispersa. Olho ao redor, poltronas vazias. Estou só. Sozinha no cinema.