Passarinho beleza cantou na minha sorte

Patativa de Assaré cantou no meu terreiro, e parece que vou embolsar o Prêmio do Ministério da Cultura.

Recebi finalmente uma carta do Ministério dizendo que eles estão dispostos a mandar pagar o prêmio que ganhei com o livro “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo”, desde que eu envie documentos e mil e uma declarações comprovando que sou bom pagador, não tenho débito na praça e estou em dia com minhas obrigações civis e militares.

Não vou mais acionar o Procon, nem detonar os trabalhos cabalísticos de Madame Preciosa. A vida é bela! Pelo menos uma vez na vida, um perdedor fica com cara de ganhador.

Uma grande editora, dedicada à publicação de bons títulos, vai produzir meu trabalho e distribuir no Brasilzão. A vida de um herói do povo brasileiro e as vidinhas comuns do meu povo do brejo devem conquistar cada vez mais leitores com esta edição nacional.

Amigo meu escreveu umas doidices e saiu por aí vendendo aos amigos em formato de livro. Dizia o lunático: “Aprecio muito as pessoas que se identificam com aquilo que escrevo. Fazem-me sentir que não fui a única pessoa no mundo a ser agraciada pela demência”.

Com o objetivo de conseguir um espaço no afunilado mercado editorial, o rapaz optou por chamar a atenção pelo título do seu livreto: “Não faz diferença se você é leitor ou autor, de qualquer forma está prostituído intelectualmente e reduzido a produtor ou consumidor de uma mercadoria”. Não teve sucesso, jamais encontrou um editor para promover e fazer circular o seu produto, no caso o livro de título bizarro. Por isso eu me comportarei muito bem no sistema, serei fiel aos métodos do editor que estará zelando pelos meus interesses financeiros. Quem se habilita?

As demandas do capital sempre tiveram dificuldades para co-existir comigo enquanto autor de seis livretos. Não sei vender livros, acho a dinâmica da indústria cultural uma coisa nojenta. Por outro lado, tudo o que produzi até agora foram na base do investimento público. Por isso posso me dar ao luxo de mandar meus livros para os amigos pelo correio, pagando inclusive o frete. Não invisto um centavo do meu bolso de pobretão para editar livros nem recebo para passá-los adiante. Isso não me faz um autor independente, apesar de resistir à ordem estabelecida.

Pelo sim ou pelo não, Pacatuba vai se mostrar nas vitrines mais chiques, senão pelos méritos artísticos da obra, mas por um selo estimulante: “Este livro ganhou o Prêmio Patativa de Assaré do Ministério da Cultura”.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 27/07/2011
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