Flagelo
Em 2009 foi consternador ver pela televisão os estragos causados pelas enchentes em Santa Catarina e a tentativa de um repórter de amenizar tamanha tragédia, dizendo “aqui a tragédia mistura pobres e ricos”. Não pude me furtar ao pensamento mais obvio de que os ricos terão como reconstruir suas moradias ao passo que os pobres... Bem, aí já é outra história.
É verdade que vez por outra acontecem fatalidades ligadas aos fenômenos da natureza, seguidas de imediatas acusações, por parte da mídia, dos supostos culpados de tais desastres. E o foco são as autoridades das localidades atingidas. Os acusadores teriam que mergulhar no túnel do tempo, se quisessem ser mais eficientes com seus dedos em riste como se fossem metralhadoras fumegantes.
Durante mais de quinhentos anos, tivemos governantes incompetentes em suas funções administrativas, embora exímios especialistas nos expedientes de malversação dos cofres públicos. Anos a fio a corrupção desfilou impune em todos recantos deste imenso continente chamado Brasil. Tem sido raros os administradores honestos, por isso mesmo, pouco exitosos na hercúlea tarefa de extinção da viciada politicagem brasileira.
Desde os primórdios do nosso Brasil, os trabalhadores se viram sugados pelo trabalho escravo. Depois, com a abolição forçada, foram atirados ao relento, sem as mínimas condições de dignidade, amontoados nas encostas, morros e beira rios, onde continuam vegetando como bichos.
O abandono do homem do campo, durante décadas, tem salvaguardado a continuidade e a anacrônica expansão dos latifundiários e o antigo e consequente êxodo rural. Os encantos do mercantilismo tem feito com que milhões de lavradores sem instrução e qualificação profissional, processem tristes inchaços nos grandes centros urbanos.
À primeira vista, parecem obvias estas minhas graves reflexões de que os maus governantes de passado remoto e tempos presentes sejam culpados de tais atrocidades.
Mas a verdade é que as classes dominantes fazem de tudo para que os pobres não enxerguem o obvio e joguem a culpa secular no colo do governo atual pelas agruras sociais deste momento. E isso tem nome próprio: chama-se sede de poder. Querem, de todos os modos possíveis, desestabilizar um governo que tenta diminuir a abissal distancia entre os ricos e os pobres.
Observação: Em forma de carta enviei para a Grande Imprensa, não foi publicada num acintoso patrulhamento ideológico.
Lair Estanislau Alves.
Janeiro de 2009