Vida eterna para escrita!

O verdadeiro sabor da escrita é o de viver paralelamente com a liberdade. Poder usufruí-la. Navegar pelos mares infinitos da imaginação e das águas puras e límpidas absorver o néctar da vida eterna. Digo vida infinita, pois seu corpo perderá a forma original, seus ossos serão encostados (às vezes material para pesquisas), mas seus escritos permanecerão, seus pensamentos difundidos, suas palavras motivarão dissertações, teses; inspirarão gerações. Guerras instalar-se-ão pelos seus vocábulos mal empregados, servirão como dogmas, pois seitas nascerão dos seus dizeres. Seu nome servirá de inspiração aos legisladores de sua cidade, tornando-se nome de praça, rua, avenida.

Seus filhos serão os responsáveis pela duração de sua memória; seus netos, também. O sobrenome possuí valor em cidades interioranas. Mas a morte não é o fim como afirmam algumas religiões. O corpo morre e a alma vivifica, perambula livre, leve e solta por aí. Assombrando alguns, ajudando outros. Com a escrita o processo é semelhante, ela permanece mesmo após a “partida” de seu autor. Comunga com alguns e com outros produz a excomunhão. Pode ser traiçoeira. Mortal. Tudo uma questão de empatia. Amor. Talvez paixão.

A escrita é misteriosa. Viaja pelo gótico, envolve o fantástico, busca o mistério. Franz Kafka, Edgar Alan Poe, Bioy Casares, Jorge Luis Borges, Hilda Hilst foram escritores, cuja escritura permanece viva e estimulante às novas gerações, mesmo depois de seus corpos não habitarem mais nosso Planeta.

É fantástico imaginar o processo de criação literária. Até onde pode chegar a capacidade de exercício da imaginação do escritor? Personagens, tempo, espaço, níveis de realidade, dado escondido etc. Virgínia Woolf costumava em seus processos criativos entrar em transe, incorporando personagens, remando entre o fio tênue da ficção e realidade. E o que falar dos heterônimos de Fernando Pessoa? Misticismo? Ou o fingimento de um criador?

E o processo de loucura em Michel Foucault e Hilda Hilst? Sem falar nas várias fases de Roland Barthes.

Fico divagando sobre a morte, morrer e não ter lido tudo aquilo que almejava. Seria um eterno vazio. A lacuna que não foi preenchida. Ler os escritos deixados pelos nossos escritores é morrer realizado, propagar a vida eterna à escrita e fazer com que a cada geração o conhecimento renasça. A escrita mexe com o pensamento humano, curando males, afastando depressões e inspirando-nos a esquecer da morte.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 07/12/2006
Código do texto: T312079
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