ESSE É O TEMPO

Não concordo com a idéia dos mais velhos de dizer que “no meu tempo era melhor”. Acho que cada época tem o seu encanto, Como bem disse Lia Luft. Não dá para comparar. Os jovens de hoje vivem o tempo de hoje. Os mais idosos vivem o tempo de hoje acrescentado de uma experiência que os mais novos não têm. Mas, não podemos viver hoje querendo sentir a mesma emoção que sentimos no passado. Entretanto, podemos viver no presente a emoção do presente, atual, quentinha, fresca como a brisa matinal. Dizer que o passado era melhor é tão inútil para o jovem quanto dizer que o futuro lhes será brilhante. A noção que eles têm de passado e futuro não é a mesma que os mais idosos têm. Vejo e entendo o endeusamento que muitos jovens fizeram por ocasião da morte de Amy Winehouse. É só observar o contexto atual em que os jovens estão inseridos. No passado não havia uma coisa chamada internet. As informações demoravam a chegar, e chegavam deformadas, gerando realidades diferentes. Um grupo de adolescentes que resolvesse formar um conjunto para tocar guitarras fazia-no com a mera pretensão de tocar por amor a música, daí as linhas melódicas lindas das músicas dos Beatles, Rolling Stones, letras simples, temas comuns, mas que conquistaram multidões pela beleza da harmonia musical. Hoje, o Youtube lança para o mundo todo em questão de segundos a música produzida por jovens ansiosos por estourarem na música, ficarem famosos do dia para a noite. A maioria não consegue. Quando aparece uma Amy Winehouse, um Evanesce, fazendo músicas com uma linha melódica pobre, porém com forte apelo emocional retratando um momento existencial ou uma rebeldia diante da incompreensão dos mais velhos, é claro que passam a ser referência para uma massa de jovens que buscam sentido na vida. A mesma coisa que faziam os antigos quando se embriagavam com rum Montila, batida de limão, nos bailes românticos animados pelos conjuntos de iê-iê-iê.

No campo da sensualidade li de Lia Luft que os mais jovens perderam a inocência. Ela comentava o caso de uma adolescente que foi flagrada fazendo sexo oral com três rapazes. Concordo em parte. Realmente, no passado, o pudor tornava a coisa bem mais interessante. A tarefa de conquistar um coração feminino era bem mais difícil, porém, por isso mesmo, muito mais excitante. Levava-se meses para se conseguir um beijo ou sair para um cinema com a namorada. Entretanto, isto não quer dizer que os jovens de hoje estão perdidos, envelhecidos antes do tempo, que não têm mais inocência. Claro que a respeito de sexo estão muito mais informados. A liberdade proporcionada pela internet permite isso. Porém a sociedade é um organismo dinâmico, que se atualiza, se mescla se adapta e vai buscar soluções para sua sobrevivência. Naquele tempo, dizem os mais velhos, não havia violência. A gente podia andar pelas ruas altas horas da madrugada sem perigo nenhum. Então se podia namorar pelos muros, rolar coxas, tirar um sarro. Dá para comparar com a época de hoje? A solução é mesmo namorar dentro de casa, e com a gama de informações, fazer-se um sexo bem mais seguro, mas nem por isso menos gostoso. A revolução sexual, a emancipação da mulher, a tecnologia, os direitos humanos está transformando a sociedade. As moças estão escolhendo parceiros para ser geradores de seus filhos, sem implicação conjugal nenhuma. As vovós brotinhos estão assumindo o papel das mães, enquanto estas vão para o trabalho competir com os homens. Enfim, hoje o homem não é mais o caçador, o conquistador, o machão soberano. Elas estão diferentes, independentes, e cientes do seu poder e charme. Decididamente, acho que o tempo de hoje é que melhor, principalmente para mim que vivi o de ontem.

henrique ponttopidan
Enviado por henrique ponttopidan em 26/07/2011
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