Manuais

Pois é!

Estou no futuro!

Quando criança jamais imaginei viver no futuro! Pra mim ele era uma lenda!

O futuro não existia! Ninguém nunca o tinha visto. Ele era só imaginado. De diversas formas: em revistas de quadrinhos; nos filmes de Flash Gordon, Perdidos no Espaço, Star Wars, Jornada nas Estrelas; nas ficções de Júlio Verne; em notícias de ET’s que, às vezes nos chegavam dos Estados Unidos (os patrocinadores do futuro) através da NASA, informando que lá, no futuro, pilotaríamos discos-voadores e nos exibiríamos, felizes e orgulhosos, para os selvagens habitantes de planetas inferiores.

É verdade que ainda não aprendi a pilotar foguetes e nem me teletransportei para outras regiões do Universo, mas já tenho microcomputador, microondas, microscópio, microsystem, telefone celular, TV a cabo, DVD Player e até máquina de lavar louça. Já entrei na internet, já usei canetinha a laser e até microfone sem fio. Uai, posso não ser um ET mas já posso me considerar um digno habitante do futuro. Só que, talvez pelo meu recente passado Neandertal, confesso ter dificuldades para conviver com tantas facilidades.

Não me lembro de ter visto o Dr. Spock aprendendo as diversas funções existentes em um veículo usado basicamente para transportar pessoas. Ou o Flash Gordon estudando todas as infinitas funções de seu telefone estelar.

Confesso que sofro de um mal jurássico: a aversão a Manuais de Funcionamento. Um dia desses me deparei com um deles e dei um basta! Era apenas um telefone celular. O aparelho era pequenininho mas estranhamente a caixa era imensa. Imensa o suficiente para caber o Manual que, segundo o fabricante, estava ali para me esclarecer. Até comecei a ler mas desisti no meio. No meio não, bem no início ainda! Que troço chato! É muito Manual de Instrução. Tem pra tudo! Qualquer coisinha vem com um livrinho traduzido pra 300 idiomas. O que ainda incorpora a frustação de você só falar, razoavelmente bem, apenas um deles.

Quando habitava o passado eu me preocupava, sinceramente, com o fato de usar menos de 10% da minha capacidade cerebral. Agora, no futuro, estou, além disso, convivendo com a frustação de não usar mais do que 10% das possibilidades de meu celular ou 5% dos serviços oferecidos pelos softwares do Microsoft Office.

E poxa: no passado, manuais eram os trabalhos feitos com as mãos. Agora, no futuro, são instruções que acompanham equipamentos que nos permitem usá-las cada vez menos.

Pois é!

Paulo Rego filho
Enviado por Paulo Rego filho em 26/07/2011
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