O VALOR DA HONESTIDADE

O VALOR DA HONESTIDADE

Ele nasceu pobre. Filho de operário da indústria madeireira. Cresceu ao som das rezas e orações de sua mãe. Seu pai, ao voltar da Serraria, sempre cantarolava uma linda canção aos seus ouvidos. Ele crescia na religião e no trabalho. Quando apanhou seus anos de criança-esperta sua mãe sempre o mandava trocar produtos do fundo-do-quintal: ovos, patos, galinhas, cana-caiana, frutos do pequeno pomar por farinha, açúcar, feijão, arroz com o seu Joaquim Português, na Avenida Brasil, ainda de chão batido.

E o menino crescia... Crescia e aprendia...

Em idade escolar foi parar na Escola Governador Israel Pinheiro. Aos sábados ia para o catecismo católico. Lá aprendeu a ser coroinha, ajudando a missa em latim. Engraxava os sapatos dos padres. De bom-de-bola que era entrou para o time de futebol da igreja. Ainda aos sábados participava da Cruzada. Nos dias de semana vendia pipoca à noite junto com seu pai que, desempregado que fora outra opção não teve senão ser vendedor ambulante e assim, criava sua família, sem precisar comprar fiado no armazém do José Vieira.

O garoto foi apelidado de Pipoqueiro, e, fez história bom-de-bola que era: jogou em quase todos os times amadores da cidade. E seu pai, um homem pobre, mas honesto, o levava para o campo de futebol: Ele ia com o carrinho de pipoca e o garoto levava a chuteira. Na preliminar do jogo o garoto jogava bola, seu pai vendia a pipoca e depois o menino ajudava o pai na venda do milho-estourado-salgado. Ele pegava um cesto de taquara, enchia de sacolinhas de pipoca e saia pelas cercanias do campo e arquibancadas gritando: Olhe a pipoca... Pipoqueiro... Olhe a pipoca... Pipoqueiro... Pipoca quentinha... Quem vai querer? Olhe a pipoca... E assim o sr. José Lúcio ganhava a vida.

O menino em sua fase de adolescente foi um jovem de peso: Estudava no Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Minas Gerais. Vendia pipoca. Jogava bola, e até os 15 anos era coroinha e ele só tinha um pensamento: Estudar (o que era incentivado pelos pais) e ser alguém na vida. E o tempo passava célere... E o garoto se transformou em um rapaz brasileiro: De estatura mediana. Então ele para ganhar mais corpo entrou para uma academia de musculação: Ganhou corpo e músculos fortes. Continuou vendendo pipoca e jogando futebol. Aos 18 anos teve a primeira frustração na vida: Ao fazer o exame de sangue para adentrar à Polícia Militar, teve suspeita de sífilis. Mas fora só suspeita. Mesmo assim, graças ao Coronel Francisco Pereira Xavier – O Xaxá – teve outra oportunidade: Repetiu o exame e nada foi constatado.

Então ele adentrou de vez ao Sexto Batalhão, sediado em Governador Valadares/MG – Brasil. No batalhão carregou lata de concreto. Mas, o Sargento Cardoso, numa tarde precisou de um datilógrafo bom. O rapaz se ofereceu para o teste. Foi aprovado no teste de datilografia. Então passou a ser auxiliar do Sargenteante Cardoso. Veio a Escolinha de Recrutas. O garoto foi matriculado nela. Ao final do curso de Soldados logrou o primeiro lugar da turma. E, no dia seguinte: 1º de abril de 1973 foi fazer o Curso de Cabos, formando em dezembro do mesmo ano. Formado foi servir no 11º Batalhão de Infantaria, na cidade de Manhuaçu/MG. Lá foi trabalhar na Seção de Pessoal, como boletinista, por ser exímio datilógrafo. O Coronel Ubiraci, à época Tenente, o acolheu com os dois braços. O Subtenente Flor o ensinava a ser mais rápido na datilografia e uma vez lhe disse: Cabo Azambuja, (vírgula) também é letra, tem que dar espaço no texto depois da vírgula. Agradeço a esse puri pelo seu ensinamento.

E o Cabo Azambuja trabalhava e estudava no Tiradentes... E ele morava numa república com outros três colegas de farda. A dona Geralda era a governanta da república onde, fazia de tudo com gosto e carinho. O Noronha era o amigo mais chegado e também era Cabo.

E o tempo passava rápido. Manhuaçu era uma cidade muito fria e Azambuja era de Governador Valadares/MG – Brasil – uma cidade muito quente, como o é até hoje. Ela era quente quiçá por ter sido desmatada em seus arredores e pela presença do Pico do Ibituruna que vigia a cidade às margens do Rio Doce, onde Azambuja no seu tempo de garoto nadou e pescou muitas vezes...

Ele nas férias visitava seus pais e ficava de papo com os velhos amigos de futebol, que sempre lhe perguntavam se retornaria à cidade. Ele respondia: Estou estudando e quero fazer carreira. E veio o concurso para o Curso de Formação de Oficiais da PMMG. Azambuja que, de esperto se submetera ao Exame Supletivo do segundo grau, se inscrevera: Foi aprovado com louvor pelos Oficiais do 11º BI – único aprovado no Batalhão ao CFO/1976.

Em fevereiro de 1976 ele iniciou o Curso de Formação de Oficiais em Belo Horizonte/MG – Brasil. E, ao cabo de 1978 formou-se Oficial em 6º lugar geral e 1º em Educação Física. Foi classificado para sua terra natal, onde, trabalhou até 1982. Lá deu testemunho de sua missão: Casou-se em Manhuaçu com a ruiva Fátima; foi honesto em todas as suas ações e atividades; fez Curso de Inteligência Militar; fez Curso de Didática; fez Curso de pós-graduação; e na Capital onde trabalhou por mais de 22 anos, sempre no operacional, galgou postos e funções na carreira e reformou-se/aposentou-se como Oficial-Superior.

E o Cabo Azambuja hoje, já grisalho e enrugado pelo tempo de vida, venceu honestamente, com sacrifício e com vontade. E é um homem realizado... Porque não dizer: Feliz! A preciosidade de ser honesto é, no mínimo, a da felicidade!

Camaradas: A honestidade sempre vencerá... Assim como o bem sempre vencerá ao mal.

Saúde e paz!

F I M.