É natal...
Tere Penhabe

É natal, mais uma vez, afinal...
E mais uma vez, os mendigos serão lembrados, e serão lembradas as crianças de rua, algumas até terão a felicidade de ganhar presentes, roupas novas, e seus olhinhos irão brilhar contentes, na ingênua crença de que será sempre natal em suas vidas.
Os pobres terão suas mesas fartas, se calhar das madames não cumprirem a ameaça de não fazerem doações nesse natal para os que votaram na pessoa errada. E por um dia ou dois, não terão que se preocupar com os ingredientes para por na panela. Aliás, com o alto conhecimento de economia que eles possuem, certamente a fartura durará mais que dois dias, bem mais.
Mais uma vez é natal... e o Menino Deus será lembrado, de alguns receberá até mesmo orações e gratidão, e se sentirão satisfeitos por terem cumprido a sua parte, que os isentará de queimarem no fogo do inferno algum dia.
Nas ruas, muitas luzes e cores, muitos sorrisos, solidariedade... no vai e vem apressado dos que buscam presentes para os seus entes queridos, paira a sensação indiscutível de um mundo perfeito, ou como deveria ser.
O espírito de natal pousará mais uma vez nos corações humanos e todos clamarão a fraternidade, que provavelmente durará até o dia mundial dela, sem forças para seguir em frente... mas tudo bem, é natal.
O comércio em polvorosa vai proporcionar suspiros de satisfação nos empresários, como se eles fossem os responsáveis pela alegria do mundo e sócios do aniversariante.
Papai Noel estará em alta, brilhando pomposo em tantas vitrines e shoppings, alguns moldados com a meiguice cativante dos olhares abençoados, outros nem tanto. E muitos acolherão em seus colos crianças felizes para as fotos que serão guardadas para a posteridade, e em algumas delas estarão cochichando promessas em seus ouvidos. É verdade que nem todas as crianças preenchem os requisitos necessários para ocuparem o colo de Papai Noel, mas tudo bem, afinal é natal.
As igrejas também estarão mais cheias, não tanto quanto antigamente, mas certamente as doações serão maiores, mais benevolentes, e poderão proporcionar regalias de natal aos seus pregadores, carro novo, viagens...
Mais uma vez é natal... e mais uma vez, eu me recuso a perder a fé de que algum dia, mesmo que não seja possível eu assistir daqui, mesmo que até lá, eu já esteja num camarote lá no céu, ou num cantinho da frenética geral no purgatório, eu possa ver a fraternidade e o espírito de natal se prolongarem um pouco... um pouquinho mais... até que consigam sobreviver pelos trezentos e sessenta e cinco dias do ano.
Acontecerá. Eu só não sei quando...
Mas por enquanto é natal... Feliz Natal a todos!

Santos, 04.12.2006 
www.amoremversoeprosa.com