O HOMEM CURIOSO E SEUS SONHOS


 

Estendi o papel ao caixa do banco para pagar a taxa do meu futuro passaporte. Achei melhor que fosse ali, para não haver dúvidas. Registrado no próprio documento os agentes da lei não poderão inventar uma desculpa qualquer e me mandar começar tudo de novo, fazer o pedido via net, etc e tal... E antes que o homem perguntasse por que não usei a máquina lá fora, como já aconteceu uma vez, eu disse: é a taxa do passaporte, quero que fique bem claro que paguei. Ele, de hábito muito sério, me olhou sorrindo e perguntou:

 

- Vai pra onde?

- Pra lugar nenhum!

- Ué...

- É só pra tirar o passaporte.

- Vai demorar, né?

- Acho que sim.

- Aí quando resolver viajar, já está com ele.

- É.

 

Pensei que a conversa tivesse acabado. Mas enquanto ele teclava e passava o papelzinho pra lá e pra cá na máquina, continuou.

 

- E quais são seus planos... pra depois?

- Nem sei ainda, depois vou ver...

 

A função foi rápida e saí de lá pensando naquele homem que é bonito, e embora sisudo, atende as pessoas educadamente, mas falando apenas o essencial. Bastou uma novidade para ele mudar seu jeito. Um passaporte... A simples menção de um passaporte deve ter tocado bem lá no centro dos seus sonhos...  
 

 

Se eu tivesse inventado qualquer coisa sobre meus planos de viagem, acho que ele não ia agüentar e acabaria contando os dele. Começaria a viajar ali mesmo, atrás do balcão.