NOS TRILHOS DA CHEGADA


 
 
Tão bom, Minas!  Minas Gerais da estrada de ferro.  Entre São João e Rio Branco.  Pela janela, a paisagem vai mudando, casinhas, roças, plantações, canaviais, e o sol em tudo.
Sentadas em frente uma da outra vão mãe e filha apreciando o conforto e o prazer da viagem, sentimentos refletidos nos semblantes. Moram em Rio Branco, mas foram passar uma temporada de férias em São João Nepomuceno, na casa da Vó Neneca. Zezé já cansara da estadia na casa da sogra. Gosta mais é do sogro de quem tem orgulho e confiança, bonita figura e nome pomposo Coronel Ricardo de Oliveira Martins.
A filha, oito anos, ajoelhada no assento e braços na janela vai curtindo a paisagem, aquelas casinhas brancas de porta e janela diferem pouco uma das outras, mas a menina adora vê-las, sente ali ter felicidades. Vida de campo, de correr pelos quintais, de colher verduras para o almoço, de pegar uma espiga de milho verde no pé e assar na chapa ou na brasa. Que momento bom saborear cada grão e dentadas também.
Quando aparece um rio é uma alegria danada!
Como estava bom pescando com a tia Oneira e pés metidos na água do rio, esperando o peixe puxar a linha da vara, e ouvindo as histórias e risadas da tia.

Das rodas vêm este barulho de dormentes e o zunido dos trilhos nas curvas que o trem faz. Cheiroso botar a cabeça pra fora recebendo o vento nos cabelos e a poeira de carvão na cara, com cheiro de alegria.
Mãe e filha estão caladas, olham-se alegres de estar chegando a casa. De volta. Avistam o pontilhão de daqui-a-pouco, e o trem diminui a marcha numa curva, e se vê a locomotiva soltando rolos de fumaça. O cheiro do carvão, cheiro de trem de ferro, diminuindo a velocidade. Olhos lá fora e para os trilhos.
          Uma vaga lembrança invade algo desconhecido de não-sei-o-que de ter ouvido murmúrios de tragédia ocorrida de alguém nos trilhos. Olha pra mãe e reconhece nela uma fisionomia constritada e disfarce voltado aos trilhos, o trem quase parando de tão devagar. 
          Antes da viagem acontecera alguma coisa. Foi a Madrinha. Morrera nos trilhos debaixo de um trem em movimento.

O sentido de compreensão de uma tragédia que estivera por perto envolve a criança, que olha para longe, estamos chegando a Rio Branco. As cercas das casas, os lugares conhecidos de sua cidade, e explode em emoções indefinidas num choro gritante é incontido, de mais sentir do que entender. Pensa que é por alegria de estar chegando a Rio Branco, em sua casa. Tudo acontece nas cidades. As alegrias e as não alegrias.

As cidades são a alma e a vida das pessoas.

As cidades estão nas pessoas por toda a vida.