O que esconde um buraco aberto

Inês Mota para a prefeita de Caicó: “você que é experta no tema, nos esclareça: um buraco cheio de água de esgoto (estourado), perde o status de buraco?”

Na cidade de Itabaiana do Norte, agreste da Paraíba, caí num buraco em frente à agência do Banco do Brasil. Quebrou a caixa de câmbio do meu vetusto veículo, respeitável pela idade, mas frágil para enfrentar aberturas naturais ou artificiais tão imorais.

Saindo da cidade, acabei de quebrar a suspensão do carrinho nas crateras entre Itabaiana e Juripiranga. Choveu bastante para derreter o material de terceira que botaram na pista, sob as vistas inconscientes ou cheias de má fé do Departamento de Estradas de Rodagem. Não há mais asfalto com buracos nas estradas de Itabaiana. O que há agora são buracos com alguns pontos de asfalto.

Os buracos são uma problemática social e individual, estética e espacial que incomodam a vista e a suspensão dos automóveis e revelam a forma passiva com que o cidadão se relaciona com os espaços urbanos.

O buraco oficial de Itabaiana ganhou fama por ser o símbolo da gestão mais desastrada dos últimos tempos na terra que viu nascer Abelardo Jurema. Meu compadre blogueiro Marconi revela no seu espaço cibernético, com contundência e verve ácida, a quantas anda a buraqueira em sua cidade. Tem buraco pra todos os gostos. Agora, os habitantes deram para comemorar aniversário dos buracos, com bolo, guaraná, velinhas e tudo. Numa deferência especial para uma cidade que está literalmente no buraco, o dilúvio que caiu na semana passada levou pontes e semeou buracos onde foi possível. Táboa de pirulitos perde pra nossa superfície bombardeada pela inabilidade, falta de sensibilidade e menosprezo pelos cidadãos.

Castigada impiedosamente por buracos de todos os tamanhos e profundidades, Itabaiana do Norte apresenta ruas que não podem ser nem vias carroçais, estradas sem nenhuma condição de tráfego. Um amigo tentou chegar na cidade, voltou do descaminho. Frase do cara, que ficou boiando na minha cabeça: “É inconcebível que uma cidade do tamanho, importância econômica e política, e com os recursos que recebe, ter uma malha viária nessa situação”.

Acho que Itabaiana do Norte possue um “buraco negro”, que é uma região do espaço da qual nada, nem mesmo a luz, pode escapar, desafiando teorias científicas. A buraqueira triste e sem fim desta cidade desacata o cidadão e afronta nossa capacidade de lutar pelos nossos direitos.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 25/07/2011
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