Pegue, leve e não leva


O texto de David Foster Wallace “O diabo anda ocupado” refere-se a uma lembrança de quando era criança, quando seu pai selecionava objetos que não queria mais, em sua casa e, para se desfazer deles, resolveu colocar um anúncio em um jornal local: “Grátis, pegue e leve”. Acreditava que, rapidamente, as pessoas iriam buscar os objetos a serem doados. Decepção, pois quando alguém aparecia, rondava o objeto, analisava e deixava. Algo estava errado e decidiu mudar de tática. Agora era desafio. No anúncio passou a colocar uma descrição do objeto e um valor simbólico. Para sua surpresa vinham até pessoas das cidades circunvizinhas e o carro parava, o comprador descia, pagava apressadamente o valor cobrado, deixando a sensação que tinha que levar logo o objeto, antes que outro comprador surgisse e quisesse levar.
Recordo que meu marido, médico, quando trabalhava em hospital publico, comentava que alguns de seus pacientes recusavam receber o remédio medicado que fosse “amostra grátis”. Justificavam dizendo que, se era dado, não prestava. As pessoas andam tão desconfiadas que não acreditam, também, em remédios genéricos e, até certo ponto, têm razão, já que as falsificações, denunciadas na imprensa, atingem remédios genéricos e os não genéricos, anestésicos e outros, causando danos terríveis aos pacientes que necessitam de tratamento, o que é crime. Desconfiam que os responsáveis por tais crimes pagam multas e estão soltos , sem a mínima consciência e remorso pelo que causaram, já que são psicopatas “vestidos” de pessoas normais, usando formas de enriquecimento à custa de sofrimento de muitos doentes.
Há um consenso entre as pessoas de que ninguém, ou nenhuma instituição, dá alguma coisa sem querer algo em troca. Quando surgem anúncios com ofertas de viagens, por exemplo, há que de desconfiar do que está por trás das ofertas. São tantas vigarices e espertezas no ar e na terra, que o precavido vale por mais de dois. Não é incomum escutarmos, pela TV, notícias de pessoas que foram lesadas, porque acreditaram em conversas bem contadas por sujeitos que ganharam na loteria e não tem documentos para retirar o prêmio, ou que comprou jóias em leilão da Caixa Econômica e está vendendo-as por preços baixos, porque precisa mesmo de dinheiro; ou anunciando a venda de carro, entregando ao tolo comprador um roubado; ou ofertando um celular, quando obriga o “felizardo” a firmar contrato por um ano, com preço mensal de “x”. São por estas e outras que conseguem a confiança dos desavisados e que entram, desafortunadamente, no bem contado conto-do-vigário”; só depois se dão contam dos seus prejuízos. O diabo anda mesmo ocupado em ajudar trapaceiros e os honestos, ao fazerem doações, passaram a ser passíveis de desconfiança.
Edméa
Enviado por Edméa em 24/07/2011
Reeditado em 25/07/2011
Código do texto: T3115307