A Bruxa da Cadeira.
Uma cadeira antiga, da minha avó, que hoje está comigo e onde mesmo fora dos padrões de ergometria eu sento para usar o computador, pois me faz bem de outra maneira, trazendo muitas lembranças, de pessoas queridas e da minha infãncia.Quando eu era criança, talvez por ela ser bem grande, era usada por todos, para pendurar guarda chuvas, casacos, calças, uma cadeira cabide.
Quando de madrugada eu acordava meio sonolenta e a olhava, via perfeitamente uma bruxa, isso me apavorava, em pânico não dormia, gritava e corria para cama de alguém.
Pela manhã, quando contava da bruxa, todos riam ou se aborreciam, dizendo que era tudo minha imaginação, que era apenas uma cadeira com roupas. E assim, a imagem da bruxa continuou a me perseguir por várias noites, até que um dia, meu pai, que com sono pesado por conta da famigerada branquinha, nunca ouvia meus gritos, disse:
- Essa noite quando a bruxa chegar, você me acorda que vou mandar ela ir embora para sempre.
Pela madrugada acordei, olhei e lá estava ela, com seu chapeú e vassoura, gritei desesperada, acordei meu pai, que levantou, perguntou onde exatamente ela estava, e acendendo e apagando a luz, me provou que a bruxa não existia, eram apenas as roupas na cadeira, que formavam a sua imagem.
Se ele não tivesse feito isso, creio que nunca acreditaria que tudo era minha imaginação.
Muitas vezes, cremos que se algo que é evidente para nós, tem que ser para o outro, e subestimamos sentimentos, que se transformam em verdadeiros fantasmas e poderiam ter desaparecido com um pouco de consideração e compaixão.
Hoje, quando minha mãe, por causa do Alzheimer, demonstra medos infundados, antes de ignorar e me aborrecer, procuro lembrar da bruxa da cadeira.
Imagem: Obra de Octavio Ocampo