Sem sonhos imediatos

Quando eu estava lá pulando minhas ondas no Réveillon, percebi que não tinha pedidos específicos a fazer. Aquilo bateu no meu raciocínio como uma faca afiada. Não lembro jamais de ter chegado na beira do mar sem estar com uma lista memorizada de desejos urgentes para ser feliz ou... mais feliz. Desta vez, eu não precisava desesperadamente ser aprovada no vestibular, na minha faculdade dos sonhos, no meu curso dos sonhos. Nem tinha que vitalmente conseguir toda papelada necessária para pousar meus pés em Toronto. Sequer podia pensar na empresa na qual queria ser promovida o mais rápido possível.

Um choque! Eu me flagrei sem discurso para Iemanjá, anjos, Deus e/ou toda força boa do Universo. As ondas iam e viam pelos meus pés e eu não tinha razão para saltar. Não sei quanto tempo na realidade, mas minha impressão é ter ficado um século encarando o mar na escuridão da meia-noite tentando pôr em um pensamento organizado as sete coisas que eu mais quero em 2011. No fim, tive que ceder aos pedidos generalizados e manjados, metade deles mais voltados para as pessoas que amo do que para mim. E dos que eram para minha alegria, somente um desejo era por algo novo, e ainda assim vago. Os demais serviam para conservar o que já conquistei.

Até agora não sei se isso é um bom sinal ou se devia servir como alerta. Quem vive sem sonhos imediatos, sem um objetivo de curto prazo perfeitamente traçado, está o quê? Vagando pelo mundo em um estado pré-depressivo, inativo, sonolento? Esperando constantemente pelo futuro enquanto a vida passa? Ou apenas... satisfeito, ainda que seja uma satisfação por agora?