DESIGUALDADES. HARMONIA.

“Como faço uma escultura? Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo que não é necessário”. Michelangelo.

Essa deveria ser a partilha da humanidade.... Tirar do excesso o que a necessidade precisa, sem comprometimento da liberdade.

Deflui ainda do realismo histórico-humano, presentemente, constatável no curso da existência, a convivência, sempre, de ricos e pobres, classes mais abastadas do que outras. A humanidade é desigual. É originário e intransponível, por serem desiguais os homens.

Mas não deve prevalecer a injustiça. Deveria estar na balança o princípio de justiça de Santo Agostinho: “Dar a cada um o que lhe é devido”. E por dignidade, a todos é devido a dignidade, o necessário para viver condignamente.

“O que é a necessidade senão o medo da própria necessidade”, proclamava Khalil Gibran.

O que é inaceitável é a miséria de muitos, a fome, a ausência de assistência.

O genial Ghandi , situa iluminadamente tal confronto:

"NÃO POSSO ANTEVER, O DIA EM QUE NENHUM HOMEM SERÁ MAIS RICO QUE O OUTRO. MAS POSSO IMAGINAR O DIA EM QUE OS RICOS REJEITARÃO ENRIQUECER À CUSTA DOS POBRES, E OS POBRES DEIXARÃO DE INVEJAR OS RICOS. MESMO NO MAIS PERFEITO MUNDO IMAGINÁVEL SERÁ DIFÍCIL EVITAR DESIGUALDADES, MAS PODEMOS E DEVEMOS EVITAR CONFLITOS E AMARGURAS."

Mas qual a razão de muitos não perceberem tais evidências?

A paixão não anda de braços com a ciência, nubla o entendimento, ensombra a compreensão, apaga a percepção, aniquila a inteligência se existente.

A compreensão humana é difusa, não é na sua maior proporção caridosa, é concentradora e personalista.

A vontade ansiosa de ideários, por vezes legítima é até elogiável, mas irreal se dá saltos em direção ao idealismo que subverte a realidade, na crença da verdade individualista. Chega mesmo a admitir a supressão da liberdade, a negação dos direitos universais, e a opressão pelo poder da maior força. Nessa esteira o poço é fundo e negro. Os fins são injustificáveis impulsionados pela ilegitimidade dos meios.

É o caso das mentes demasiadamente idealistas e conectadas com visão acanhada que suprime o maior bem - o direito à liberdade. Não atuam em despropósito com muitos valores, pessoais, mas não percebem inversões da realidade mesmo havendo perda de benefícios existentes por seus posicionamentos. Mas cada um tem sua condição de aprendizado e, o empirismo às claras, não satisfaz sua visão. Como advertia Maquiavel, há três tipos de mentes, a que aprende sozinha, a que precisa de ajuda para aprender, e a que nem com ajuda aprende.

Tem sido assim no academicismo que mostrou aos tempos sua inutilidade em face dos direitos individuais, principalmente de igualdade e liberdade.

Por exemplo, na história do socialismo e do liberalismo, o socialismo sectário, o comunismo, restou isolado. Por quê? Porque não perceberam seus cultores, na sua sanha de buscar o que SERIA melhor, que nada pode sobreviver suprimido o bem máximo do homem ; A LIBERDADE.

Muito menos fazer surgir paz, a harmonia.....

Imaginem-se em Cuba, de onde só se pode sair se o Estado permitir. O quê é isto? Que loucura é esta? Sou dono da minha vida e do meu destino, desde que não fira a individualidade de ninguém, aí sim interfere o Estado.

Assim o que foi esquerda viu-se engolida pelo que foi direita. Olhe-se em volta, mire-se o mundo. É a inegável realidade. Dois impérios surgiram com indicutível força no mundo, Roma e hoje os EUA, este com 800 bases militares fora de suas fronteiras, que sangram seu orçamento e dominam o cenário.

Até a burguesia - para quem verdadeiramente conhece suas origens e desdobramentos, desde o século X com os "mercatores" ou "burguenses", que lhe deram nome, até alcançarem a força e o prestígio que a riqueza proporciona, abatendo feudos, dominando governos de comunas medievais e muitas vezes se associando à realeza nas lutas em que essa se punha diante das suzeranias - não pode hoje ter o mesmo conceito. Não é mais como era; quem não era vilão ou servo, era nobre, clérigo ou BURGUÊS.

Isso também acabou! A palavra burguês relacionada à classe social só a incultura considera.

A inteligência busca o saber e, face às suas habilidades, deixa o estudo um pouco de lado, mas não será suplantada. Ninguém tem o direito de fazer afirmações fora da realidade. Encontrará um aluno, sempre, mais esperto, que não se submeterá à cátedra por ser cátedra. A “paidéia” grega está solta no mundo moderno para não estancar o novo, instigantemente exercitado, e ela é lançada pelo e para o mestre.

Já o saber nunca alcançará a inteligência por mais que se esgotem bibliotecas; remará no deserto e nadará na planície. Inteligência e saber aliados são insuperáveis, e nunca se colocarão contra a evidência, contra o quê, nada se pode.

Evidência em lógica é a certeza, denominador comum de todas as ciências. É difícil de defender a não- liberdade, a ilegitimidade da desigualdade plena. Seria hipótese, em lógica, aquilo que não é, que seria, se fosse. Uma contradição à certeza que encerra a evidência, a verdade.

Edward Wilson, professor de Harvard, autor da incrível obra "A Unidade do Conhecimento", com o peso de seu vasto saber, explicita que "espera-se dos cientistas sociais a indicação de como moderar os conflitos étnicos, converter os países em desenvolvimento em democracias prósperas e otimizar o comércio mundial"; acrescento eu, nunca confundir ou tentar separar mais e mais a sociedade, e o pior, ensinando padrões ultrapassados que de alguma forma dividem antes de conciliar.

Não se engana mais com tanta facilidade o alunado, a informação é veloz e alcança distâncias.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 23/07/2011
Reeditado em 26/07/2011
Código do texto: T3113075
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