UM VELÓRIO DOIDÃO
Há alguns dias, retornava-me de uma viagem, onde fui visitar meu cliente, e no posto de gasolina, onde parei para abastecer meu carro, um velho amigo parou-me e fez um convite, por sinal, meio louco, mas um pouco de proveito para o evento. Dizia ele:
- José, você precisa ver o que está acontecendo na cidade. Fulano de Tal, segundo meu amigo de nome Dirceu, era um grande estudioso de Filosofia, era aposentado como professor, nas horas vagas fazia palestras sobre viver bem. Muito culto, bastante sábio e cheio de realizações de um grande cidadão. Ele faleceu e seu velório está sendo feito no salão da paróquia. É um pouco diferente do que estamos acostumados a presenciar.
- Vamos, respondi.
Faltava alguns metros para chegar ao local e pude deparar uma situação meio estranha.
Perto da entrada, havia uma grande faixa que anunciava o falecimento do Fulano. Em volta da faixa, estavam pintadas várias espécies de flores. Tinham rosas, orquídeas, hortências e outras, e sua foto no meio da faixa, com um sorriso mais lindo que já pude ver até hoje. Na entrada, um arco cheio de balões de várias cores, prevalecendo o vermelho, o verde e o amarelo. No meio do arco, um pedestal e um livro com o nome de suas publicações e um livro de presença, onde existiam mensagens escritas por ele.
Até este momento, tudo parecia normal. Porém, ao entrar no recinto, vi várias pessoas vestidas de roupas pretas, de roupas vermelhas, de roupas brancas e roupas amarelas. Não entendi, mas estampadas em sua frente, havia uma foto do finado, com o seguinte dizer: “ Morri para alegrar as pessoas que me alegraram, porque daqui para frente, serei o ser mais alegre e maluco”.
Estranho, mas pensei ser a realidade, porque o finado era um amante da Filosofia e sabia muito bem o que esta frase significava para ele, apesar que entendo muito pouco de Filosofia.
Prossegui, mas ouvi muita música, principalmente músicas de roque, de jovem guarda, feixes de luzes e para minha surpresa, um palco montado perto do caixão onde estava ele sepultado, cantando tais músicas e no fundo do palco, varias pessoas dançado, tomando cerveja, fumando, balanceando e fazendo mais coisas, das quais fico constrangido de falar.
Aproximei e vi uma senhora que ria e chorava ao mesmo tempo. Julguei ser esposa ou mãe do falecido, mas pelo que meu amigo de Dirceu me falou ser um de suas quinze amantes.
Meu Deus, como um homem pode dar conta de ter quinze mulheres e riam, porque permitir uma coisa tão maluca e estranha no momento, pensei mas com o embalo das músicas comecei até a dançar.
Após duas horas, ouve-se uma voz forte falando em cima do palco, que seria o momento da partida final do finado, ou seja, seria a despedida e o enterro.
Uns gritavam, outros choravam, outros pulavam, mas era um acontecimento muito estranho que mal dava para acreditar, um velório muito doido.
Fecharam a urna e as pessoas carregaram-na e na porte, ouvi uma explosão enorme de fogos de artifício, no fundo banda de música tocando, carro de som tocando roque e as pessoas cantando e dançado, até a chegada no cemitério.
Nunca vi tanta gente e eu não pude ir ao cemitério.
Já de volta para casa, pude imaginar que velório tão maluco e doidão, que jamais um ser humano poderia ter. Porém, imaginei, que o falecido era uma pessoa tão útil para aquela comunidade e cheio de sabedoria. Mesmo estando longe daqui, sem vida, ele pode amar de fato sua vida. Jamais viu tristeza e fazia da tristeza uma verdadeira alegria. Queria mostrar para as pessoas que a morte não é a separação definitiva da vida e sim uma aproximação de vivencia e aproveitamento efetivo de todo segundo vivido. Viver eternamente bem, pois, a passado já passou, o futuro não se sabe o que acontecerá, porém, o presente é a melhor parte para se viver.
Viver cheio de amizade, cheio de palavras para consolar outras que precisam. Viver o verdadeiro amor e o respeito com a humanidade e sobretudo, amar tudo o que se tem e o que terá no futuro.