As bicicletas da minha vida

Primeiro, pedalar era impraticável. Não fazia sentido que o equilíbrio existisse sob duas rodas finas. Por isso mesmo, bicicleta se tornou rapidamente sinônimo de joelhos machucados, mãos arranhadas, choro.

Mais pra frente, pedalar era uma aventura. Com aquela máquina incrível, era possível chegar em todo lugar mais rápido, com prazer, sem esforço. Melhor do que andar ou correr, mais... flutuante.

Uns dez anos depois, bicicleta passou a me lembrar academia. Pedalar com força para chegar a destino nenhum, suar ao máximo, e conferir na telinha quantas calorias estava queimando. Não era aventura. Era estética.

Na etapa seguinte, esqueci as pedaladas. Eu me mudei para uma cidade de montanhas e me tornei uma pessoa que anda. Envelheci assim, mas fixei a bicicleta na memória como minha própria Harley Davidson, capaz de me levar aos quatro cantos do mundo.

Foi pensando nisso que, há duas semanas, decidi recuperar minha “motoca” de infância. De primeira, vacilei no equilíbrio, caí na calçada. Depois, fui! Feliz, livre, cabelos ao vento... por uns 30 segundos.

Aí me tornei ofegante... cansada... suada... com dores na bunda... nas costas... Pernas latejando, pernas dormentes, pernas mortas! Sendo ultrapassada por outros ciclistas, motoristas, andantes. Uma derrota!

Pedalar ERA fácil... Hoje, preciso de motor.