As Cubas opostas

Foi em um lapso de loucura que decidi viajar. E o destino escolhido veio para satisfazer um sonho antigo: Cuba!

A ilha me recebeu em um aeroporto humilde, mas com muita simpatia. A agente de imigração, por exemplo, dispensou a cara amarrada e analisou meu passaporte dançando salsa com os ombros. Faz a pessoa se sentir bem-vinda, em vez de potencialmente criminosa.

No caminho para o resort, carros de 1950, vacas, galinhas, porcos. Casas em estilo Torre de Pisa, pencando para um lado ou para o outro, sustentadas por estacas de pau matematicamente posicionadas. Cada muro de uma cor. Talvez porque não havia tinta o suficiente. Talvez por opção.

Na paisagem, predominam marcas de um país que suga os produtos da terra. Pastos devorados, plantações sendo re-cultivadas. E muitas, muitas mensagens de otimismo em outdoors. Como se eles precisassem se reafirmar os ideais e a esperança. “Juntos temos mais força”, “Para sempre o socialismo”, “A caminho de um mundo novo”.

E se posso dizer que há culto à personalidade, o ídolo é mais o revolucionário Che Guevara do que ex-presidente Fidel Castro - o que me fez sentir cúmplice do povo que nem conheci, porque a escolha do "fanatismo" é igual a que eu faria.

Mas o interessante mesmo é perceber que o ônibus segue por um caminho transitório. A Cuba dos cubanos para a Cuba dos turistas.

Aos poucos o horizonte gasto, ruralista – que a maioria ignora dormindo – se converte em praias de água incrivelmente azul, flores, mil palmeiras e hotéis de luxo. É quando os visitantes abrem os olhos... para checar o grande exibicionismo para quem vem de fora.

Já para a massa dos nativos, infelizmente, arrisco dizer que só cabe o papel de servir e sonhar com o que acontece no mundo paradisíaco que os resorts mantêm atrás de suas portas. Oito piscinas, 20 bares e restaurantes, quadras de basquete, futebol, tênis, arco-flecha, ping-pong, boate, spa, academia. O hotel é feito para se bastar. Todo o resto custa caro.

Para os que ainda ousam querer sair, Cuba se manifesta em uma fake-cidade, construída para os turistas e suas máquinas fotográficas.

No fundo, sabe-se que a realidade desta nação não é só esta, perfeita, sorridente, colorida. Mas quando a banda chega para tocar seu merengue, quem é que ainda se lembra disso? Ou melhor... quem é que se importa?