A IMPORTÂNCIA DE VIVER.

O notável Lin Yutang, nascido em Changchow na China, século dezenove, em uma de suas festejadas obras, “A Importância de Viver”, pede que façamos uma analogia de nossos prazeres, da mente e do espírito, daqueles que achamos os mais altos, para vermos até que ponto se encontram vitalmente relacionados com nossos sentidos.

Estariam mais do que com nosso intelecto?

Faz, portanto, uma linha divisionária do que se pensa ligado extremadamente, sentido e intelecto.

E indaga: “Que coisas são esses prazeres espirituais mais altos, que distinguimos dos mais baixos?” E remata: “Não são partes da mesma coisa, não se enraízam e terminam nos sentidos, não são inseparáveis deles?”

Se compararmos os prazeres mais altos do espírito – literatura, arte, música, religião e filosofia – constataremos quanto de escasso é o papel do intelecto.

Esse ligame do sentido, do sensório com o intelecto tem um inicio para ser deflagrado, e assim vai ser cuidado, amanhado, burilado, mas não é “vital” para a percepção sensorial.

Uma tela e sua fatura podem ser apreciadas, conhecida sua figuração pelos sentidos, suas cores, sem conhecer a fatura do autor. O primeiro ao sentido emociona, o segundo só o conhece o intelecto.

Assim na música e nos outros exemplos do filósofo e mesmo na filosofia em seus rudimentos, pois explica-os a natureza, desfilam para olhos atilados que os sentidos percebem.

Mas há um referencial para o sentido como também ensinava o grande Confúcio, verbis: “Não é a verdade que torna grande o homem, mas o homem que torna grande a verdade”.

Sem o apossamento da verdade universal que se ausenta de desvios e só comete o bem, caminhando nas sendas da clareza do pensamento, os sentidos não respondem.

Não se irá compreender a razão de Michelangelo martelar seu Moisés depois de pronto pretendendo que falasse. Iria o desconhecimento da verdade entender que o grande mestre era soberbo, vaidoso.

Não! Não era..

É preciso passear pela clareza, se preparar para os sentidos estarem atentos, como fez de forma inigualável Buda.

Chang Ch`ao, outro notável filósofo, direcionava suas setas do saber: “Só aquele que encara despreocupadamente as coisas com que se preocupam os homens pode preocupar-se com as coisas que os homens encaram despreocupadamente”.

Clareza, correção, linearidade na vida, verdade, principalmente a universal, sem raízes na dissenção, a verdade que tomba sob os sentidos do homem medianamente inteligente pelos meios formais, deve ser paradigmática para os sentidos mesmo sem que esteja secundada pelo intelecto.

Por isso digo que o certo e o errado estão visíveis para o homem comum, sem necessidade de grande instrução. Não se precisa conhecer as intrincadas oficinas do direito nem aplicar o princípio agostiniano relativo à justiça para saber o que presta e o que não presta.

Nenhuma civilização foi completa, o homem é incompleto, precisa chorar para poder rir, como se diz em filosofia simples, com bondade e tolerância de contrapeso, mas vivendo as verdades conquistadas pela humanidade. Por elas erradicou-se em grande parte a escravidão legal, por elas se tomam caminhos melhores, sem violências e agressividades, embora elas persistam. É também humano, nem todos estão habilitados a pensar com clareza.

Essa importância de viver está em encarar a vida com mais simplicidade do que faz o homem de negócios.

Reside até mesmo no perigo de sobrevivência em complicar de tal forma os meios de consumo que seja absolutamente penoso pelos meios naturais obter comida, até que percamos a fome.

Malthus, o monge inglês economista, que deu nascimento ao debatido “malthusianismo”, já advertia que o banquete da natureza não serviria a todos, a mesa seria pequena.

É preciso sentir mais, acionar os sentidos, de forma a se viver com menos preocupações e mais simplicidade, dando curso ao exclusivo ser que somos, um produto da natureza. Esta a importância de viver.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 21/07/2011
Reeditado em 21/07/2011
Código do texto: T3110436
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