A LIÇÃO DOS CASACAS DE COURO
À primeira vista julguei que eles tinham miolos, mas não sabiam usá-los honrando o Criador. Passaram meses carregando gravetos, cada graveto media três vezes o tamanho deles; colocavam nos galhos escolhidos sem reparar que de cada dez que carregavam, oito iam parar no chão. Cansei. Toda manhã, toda tarde eu juntava um montão de graveto. Até quando iam insistir num trabalho que não indicava resultado?
Desisti de acompanhar aquele trabalho infrutífero, apesar do canto me atrair e trazer calma à minha alma. Todos que chegavam à minha casa ficavam impressionados. O casaco de couro é um pássaro parecido com o rouxinol, mas sua cor marrom é mais forte, é pouco visto, mas seu canto é ma-ra-vi-lho-so.
Chegou à chuva e o frio, fui obrigada a ausentar-me do quintal. Esqueci-me dos ‘ casacas de couro’. Passados vários meses, fui até o pé de acerola, e fiquei surpreendida. O tamanho do ninho poderia abrigar um filhote de qualquer ave graúda. Puxa vida! É por isso que eles insistiam em carregar gravetos longos e grossos. Pra construir aquela obra prima eles precisaram de paciência, perseverança, coragem, força para correr contra o tempo ( o inverno se aproximava).
Confesso que aprendi a lição. Julguei-os, sem saber que naqueles miolos havia lógica, projeto, não agiam por impulso, sabiam o que queriam, perseguiram seus sonhos, e puderam louvar quando viram a obra pronta, contemplando os ovinhos. Aguardaram o tempo da vida, colheram os frutos do trabalho realizado em equipe: três casaquinhas de couro para continuar alegrando a alma dos humanos e povoando a terra enquanto permitirem que vivam em liberdade.
21/07/11