O bigode de Nietzsche, as barbas de Che Guevara e os óculos de John Lennon

Vivemos em mundo, onde a independência em vestir-se, se comportar etc., saltou do individualismo (se é que um dia tivemos essa independência) e passou a atuar de forma paradigmática, ou seja, realizamos algo apenas porque outros realizaram. Há um certo acomodamento. Um gesto típico de “Macunaíma”. O olhar preguiçoso, os braços e pernas repletos de uma carga física insuportável e o cérebro repleto de conceitos que faz o Humano perder a capacidade de pensar.

A todo momento ocorrem fatos que acabam desencadeando uma centena de outros parecidos. Parece que estavam guardados à espera da realização do primeiro ato para poderem seguir o primogênito. A partir desse momento a imprensa noticia, as pessoas não se refazem “argumentativamente”, insistindo em dialogar apenas sobre esse assunto. E isso é fato: jovens morrendo de anorexia; aviões se colidindo no espaço aéreo nacional; o caos nos aeroportos controlados pelo Ministério da Defesa Brasileiro; corrupção no Governo Federal; esquerdistas dominando o púlpito das presidências na América do Sul (hoje atuam como ditadores), calando a imprensa, absolvendo companheiros envolvidos em escândalos, burlando às leis eleitorais e por aí vai...

E não é de hoje que o modismo tornou-se artigo de luxo entre os que almejam se aparecer, às vezes em benefício de uma causa nobre e justa edificando e consolidando a vida de um país democrático. Optar pela “Bossa-Nova” já foi sinônimo de intelectualidade, assim como cultuar a mistura imposta pelo “Tropicalismo”; ouvir os garotos da “Jovem-Guarda” era sinônimo de “americanização”; pintar os rostos e sair às ruas, simbolizando o índio pronto para guerra, tornou-se uma marca da juventude em tempos de “impedimento”; seguir diversas correntes filosóficas, também, foi modismo e até hoje continua navegando pela mente dos intelectuais e, também agora, pelos cidadãos comuns. A mídia televisiva acabou incorporando esses valores à sua grade de programações, dissecando e comparando os conceitos filosóficos com as situações banais do cotidiano. Nietzsche tornou-se “pop”, e seus conceitos acabam sendo absorvidos de uma outra forma, dando a mídia mais espaço à dimensão de seu bigode do que para os seus aforismos; Guevara volta à tona com a “Esquerda” passeando e fincando sua bandeira pela América do Sul e sua barba cultuada por muitos como sinônimo de rebeldia. Até o jogador argentino Diego Armando Maradona utilizou-se dela, e foi mais além, comprou uma camisa com o rosto clássico de Che e se exibe pela América Latina; John Lennon em todo Natal é lembrado por sua melodia e letra cobrando a paz, união; mais de vinte anos após sua morte seus óculos são usados e eternizados como o símbolo do ex-Beatles brutalmente assassinado.

A cultura “pop” sem o poder de absorver e digerir as informações costuma misturar os conceitos, e dessa mistura confundir àqueles que nunca os leram (os ídolos) e dessa “Torre de Babel” saírem bradando fidelidade e conhecimento sobre o ícone, sem ao menos despertarem o poder de pensar.

De fato falta muito para aprendermos a pensar, questionar e, realmente, apresentar informações e conceitos de qualidade.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 06/12/2006
Código do texto: T310938
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