Triste solidão

A noite é fria e calma. Lá fora, apenas o barulho do vento e dos pingos de chuva que caem mansamente sobre a terra. A solidão é minha única companheira inseparável e constante. Fico pensando em fatos que possam acontecer, te imagino chegar e bater à porta, de surpresa, tornando essa noite menos solitária e a mais maravilhosa de nossas vidas.

Penso em você a todo momento e no que pode estar fazendo nesse instante, em poder ganhar um forte abraço e ouvir uma palavra carinhosa que possa acalentar meu sofrimento e espantar essa triste solidão que tanto me apavora. Mas, nada acontece.

Ligo o rádio e de repente... A canção tocou na hora errada. Quanto mais tento me distrair mais vejo você em meus pensamentos. As músicas tocam meu peito e me trazem lembranças... Lembranças boas, mas que machucam por não te ter ao meu lado para relembrarmos juntos e podermos compartilhar mais uma vez das alegrias que vivemos.

Pego um agasalho e saio pela rua, buscando algo que possa me acalentar um pouco. Os passos vão me guiando lentamente sem direção, como se nada mais importasse nesta noite a não ser a tristeza que carrego comigo. As lágrimas se misturam às gotas de chuva como se a natureza também chorasse as suas mágoas e os seus problemas.

Paro e sento embaixo de uma cobertura de loja. Aqui a chuva não mais pode me molhar, mas posso sentir o vento frio tocar meu rosto e esfriar todo o meu corpo. De repente, me vem à mente a lembrança de nosso primeiro encontro. Tudo é tão nítido, parece que estou revivendo tudo novamente.

Era uma noite de domingo; o céu estava estrelado, mas o frio era insistente e um tanto incômodo. Estávamos agasalhados, mas a frieza teimava em ser mais forte e se misturava ao nervosismo dentro de cada um de nós. Caminhamos lado a lado alguns instantes, as palavras eram poucas, o silêncio muitas vezes nos dominava e ficávamos ali sem falarmos nada um ao outro. Em meio ao silêncio senti tua mão tocando a minha e segurando-a de uma forma tão carinhosa e aconchegante que não pude recusar.

Por um momento senti receio em corresponder àquele gesto; o medo e a timidez me deixavam um tanto insegura em relação àquilo tudo. Mas, você chegou de uma maneira tão diferente de outras já vistas que fui me encantando aos poucos, a cada dia que passava. Quando dei por mim já estava completamente ligada a você sentimentalmente.

O tempo foi passando... Raivas, tristezas, alegrias, mágoas, cada sentimento podia ser dividido por ambos, e ao final sempre acabávamos nos entendendo e acendendo ainda mais a chama que ilumina nossa relação.

Você... Calmo, mas muitas vezes enfurecido; eu, meiga e apaixonada, e tantas vezes fria e irritante. Foi assim que nos envolvemos e pudemos plantar a semente do que se chama amor. Semente esta que a cada dia vem sendo cultivada; algumas vezes fica esquecida e com sede, quase à beira da morte, mas logo cuidamos de tratá-la e dedicar-lhe um tempo para que possa continuar viva e com sua raiz crescendo sempre mais forte.

Hoje sinto sua falta; quis o destino colocar uma distância entre nós e nos separar fisicamente. Sinto a nossa semente sendo esquecida e deixada aos cuidados de apenas uma parte de nós. Enquanto você não volta, vou me esforçando para mantê-la viva e forte, cultivando-a dia a dia para que a morte não seja o seu destino, para que futuramente possam dar belos frutos e mostrar o quanto valeu a pena ela ser cuidada.

Enquanto você não vem, vou sentindo saudades suas e tentando suportar esse frio que parece querer congelar nossa semente e impedir o seu crescimento; vou vivendo de lembranças e driblando a solidão que me incomoda; vou seguindo na esperança de te ver em breve ao meu lado novamente e sermos como antes; vou sonhando e tentando alcançar meus objetivos. Vou tentando esquecer que fui esquecida e lembrada apenas por esta imensa tristeza e solidão que me abatem...

Anny Silva
Enviado por Anny Silva em 20/07/2011
Código do texto: T3107351
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