APOSENTADOS

Caminhar pelas ruas da área comercial de nossa cidade tornou-se um verdadeiro desafio; uma competição de obstáculos, como aquelas das olimpíadas. Primeiro temos que nos desviar dos carrinhos de mão repletos de frutas, sob pena de lesionarmos os joelhos; depois temos pela frente as bicicletas em cima dos passeios, sem contar os buracos; volta e meia alguém torce o pé. Agora apareceu uma nova praga para importunar os transeuntes. Estou falando dos captadores de “incautos” para as financeiras.

Isto mesmo! As ruas do centro estão repletas de caçadores de clientes para essas agências de emprestar dinheiro. Se você tiver “cara de aposentado” não consegue dar um passo sem que seja abordado e importunado por uma mocinha bonita, com jeito insinuante e olhar de promessa, que lhe atravessa o caminho lhe oferecendo uma “excelente” proposta de empréstimo.

Meu Deus! Como são insistentes! E como sabem argumentar! São capazes de tudo; se insinuam, fazem caras de anjos, lançam olhares convidativos, nos seguram pelo braço, são difíceis de resistir. Certamente recebem treinamento nesse sentido. Se lhe dermos atenção não conseguiremos escapar do bote.

Existem dezenas de financeiras espalhadas pela cidade; cada qual com uma oferta melhor do que a outra, e com uma única finalidade, atacar e abocanhar os pobres coitados dos aposentados.

Eles são presas fáceis e seguras, pois, uma vez efetivado o empréstimo, o desconto virá no contracheque; assim, não existe o menor risco de inadimplência.

Dona Lourdes, feirante do Mercado Central, é casada com João Batista, um senhor de 73 anos, aposentado, doente, que usa o que recebe de sua parca aposentadoria apenas para custear seus remédios. Pois bem, ele caiu nas malhas de uma captadora dessas. Muito bonita e insinuante; com muito jeito e atenção a mocinha falante arrastou de braços dados, o desprevenido e ingênuo senhor para o escritório da financeira; sem muito esforço, a jovem, o convenceu a fazer um empréstimo a ser pago em infindos meses.

Ao explicar em casa diante do filho adulto o que tinha feito, o ingênuo João Batista, entre suspiros e ar de quem estava no céu, disse que a mocinha parecia ser uma pessoa tão boa e complementou sorridente: Ela gostou de mim.