DEU BRANCO

Faltam-me adjetivos para caracterizar o que sinto após ver os jogadores da seleção brasileira errarem os quatro pênaltis que bateram. Um verdadeiro show de desequilíbrio emocional acoplado ao estado de inércia dos jogadores e comissão técnica que ainda não conseguiram incorporar a vontade de vencer e a raça que há de se ter quando se coloca no corpo a veste que representa uma nação inteira de apaixonados pelo futebol.

O Brasil literalmente parou, ontem. Paramos todos nós e vestidos de verde, verdes de esperança, assistimos a um jogo azul. Bom à beça no primeiro e segundo tempo, exceto pelo fato de um goleiro mais verde ainda, que lutou quase que sozinho, acreditou, fechou o gol e transferiu nossa agonia para a prorrogação e simultaneamente para os pênaltis. Vestimos outra vez o manto verde e amarelo e acreditamos, esquecemos, porém de combinar com os jogadores que não acreditaram, aliás amarelaram diante do brilho verde do goleiro Justo Villar. Vi do meu sofá o desastre. E ficou a sensação estranha, amarga, nunca antes experimentada por mim e acredito, dadas as pesquisas que esse jogo me moveu a fazer, por milhares de brasileiros encantados por esse esporte.

A seleção de Mano Menezes parou na tarde de ontem com um placar estranho de menos quatro. Certamente nenhum brasileiro que assistiu essa partida se lembrará do resultado oficial desse jogo. Ficará na memória o déficit de quatro, os quatro pênaltis perdidos. Menos 4 será o placar que não sairá da memória.

Não há em meu discurso qualquer revolta com o técnico ou com os jogadores. Não sou uma torcedora que briga, esbraveja ou que se altera frente a resultados negativos. Pelo contrario, sou apaixonada por futebol, mas não perco a razão para falar do assunto. Gosto de analisar as partidas, o desempenho, os comportamentos e a emoção que cada jogo é capaz de despertar em nós.

Confesso que após ver o amarelar brasileiro eu fiquei branca, aliás, essa cor que ocupa tão pouco espaço na nossa bandeira, ontem parece ter se alastrado pelas faces dos torcedores brasileiros que no final do jogo estavam como eu, brancos de susto. O susto que levei ao ver o inacreditável mexeu com minha curiosidade. Pequei meu computador e comecei a pesquisar. Posto que eu adoro assistir futebol e já vi um numero razoável de partidas nesses meus trinta e dois anos, não me recordava, nem puxando o mais fundo da memória, de ter visto isso antes. Minha busca foi inútil ainda estou procurando alguma seleção ou time que tenha conseguido esse vexatório marco brasileiro.

Lembrei-me também de algumas vezes em que a seleção ou qualquer outro time brasileiro vestidos de raça e vontade conseguiram despertar em mim e na nação as mais profundas emoções e mover em nós as lágrimas de orgulho por sermos do país do futebol arte, mas acima de tudo do futebol garra e vibração.

Impossível esquecer a final da copa do mundo de 94. Quanta determinação, equilíbrio e confiança tinha aquele grupo. Energia que vibrava em torno de um mesmo objetivo. E essa energia associada a um goleiro inesquecível conseguiu intimidar o melhor jogador da Itália que tremeu e jogou a bola para o céu fazendo a alegria de um povo inteiro. Naquele cenário de euforia verde e amarela a imagem dos jogadores italianos aos prantos caracterizava bem a dor de quem luta com a alma, atitude que já não observamos na nossa seleção a algum tempo.

A vontade que faltou ao grupo do Brasil nessa copa América é exatamente aquela sobrou a Paulo Henrique Ganso na final do campeonato Paulista do ano passado em que o moleque bateu no peito e mesmo arrebentado disse ao treinador que ficaria para segurar a barra e ajudar o time a ser campeão.

Determinação como a de Petkovic, Adriano e Cia que deu ao flamengo o titulo de campeão brasileiro após 17 anos e que pintou o rio e o Brasil de vermelho e preto.

E se a pauta é cobranças de Pênaltis, lembro exatamente da Final da Libertadores de 1992, momento em que minha paixão pelo tricolor Paulista foi consolidada. Naquela partida a seleção de Tele conquistou o Brasil e o mundo na mais emocionante cobrança de Pênaltis que já assisti. Eu ainda era uma moleca e chorei experimentando o orgulho de ver meu time vencer com tamanha determinação e competência.

Diferente do que vi ontem. Um time incompetente e aparentemente despreocupado com o fracasso. E foi exatamente a despreocupação, o descaso após vexatório episódio o que mais me impressionou. Há que se valorizar. Não importa se é copa do Brasil, campeonato paulista, campeonato Brasileiro, Libertadores, Copa América ou Copa do Mundo.

Resta-nos agora acreditar que nas próximas partidas entrará em campo junto com as nossas estrelas, a coragem a determinação e o compromisso com a nação. Nação que não merece um branco coletivo de jogadores deixando a perplexa frente às câmeras do mundo.

Luciene Bessa
Enviado por Luciene Bessa em 20/07/2011
Reeditado em 20/07/2011
Código do texto: T3107043