Cidadezinha

Não tenho nas minhas veias a aceleração necessária para aguentar o frenesi das megalópoles. Nelas, as pessoas são menos indivíduos e mais “massa”. Não curto. Principalmente porque esse anonimato cria desculpa para muitas coisas, entre elas, a violência e a arrogância. Quero ver alguém apelar para a buzina, o grito e o dedo do meio quando reconhece minimamente a cara do fulano ao lado.

É por isso que adoro cidadezinha. Uma vez que os rostos são menos estranhos, a única saída é se adequar ao esquema da “boa vizinhança”. Longe de ser fórmula da perfeição, porque desavença e falsidade existe em todo lugar. Mas quando a chance de se esconder é menor, e a fofoca ganha uma força exponencial, fica claro que não se pode ir tão longe com a sacanagem.

Cria-se, assim, uma linda paz aparente. De acordar pseudo-cedo no sábado, pegar o jornalzinho na porta com a minha matéria na capa, olhar desconfiada para um forasteiro, caminhar sem pressa pela rua, brincar por 15 segundos com o filhote golden retriever do vizinho, e sorrir para o padeiro, que me pergunta “veio comprar o de sempre?”.

Vida pacata dá a impressão de que o dinheiro manda menos no mundo. Logo, a felicidade parece não custar tanto.