Desencontros até o encontro

Esperei durante 24 anos e seis meses pelo meu encontro. Fui testada por alguns inconvenientes, sete namoros, e uma porção de casos adequados ou debaixo dos panos. Nas noites de bares e boates em que eu podia enxergar direito, foquei nos olhos de cada um tentando achar sobre o que as pessoas tanto falam. Mas fugi, quase sempre de forma pouco honrosa, daqueles que se empenharam em ser demais para mim.

Na única vez em que desconfiei estar realmente perto, aproveitei por um momento a felicidade. Depois temi, o destruí, senti arrependimento, e desenvolvi uma obsessão por aquilo. Mais tarde, tentei interpretar tudo como destino. Era a pessoa certa na hora errada e meu sofrimento era merecido.

Foi por ele o choro mais longo e derrotado da minha história, consumindo uma angústia imensurável. De alguma forma eu achava que aquilo era o que os outros descreviam como intensidade do amor. Até eu decidir que não. E durante duas garrafas de vinho barato e uma noite, pude ouvir mil sonhos sendo estraçalhados. Eu precisava exorcizar uma vida inteira da minha esperança secreta. Jogar cada idealização no lixo.

Quando comecei a rabiscar meus dias em uma folha nova, pensei que era mais seguro não esperar mais pelo amor. Talvez ele não fosse para mim. A matemática nos força a admitir que nem todas as pessoas têm um par nesse mundo. Aceitei que a parte de mim que destrói, foge, sabota e amarga relações seria sempre mais forte do que o 'eu' que deseja a chance de se tornar 'nós'.

Em um amanhecer desses, com o vento frio e o céu azul e limpo, eu disse 'oi' para um desconhecido e entendi o que eu lia por aí. O amor acontece. Não precisa de uma explosão atômica para se fazer enxergar. O amor flui. Sem manipulação, jogos, segredos ou hora errada. Sem destruição.

Descobri que armaduras só são possíveis quando o sentimento é outro que não o amor. E tudo o que havia em mim com instinto assassino se calou espontaneamente. Não há razão sequer para temer o fim. Se tiver que acabar, ainda assim terá valido a pena, porque amar cria uma narração incrível na vida, que fala dos mínimos encontros. É saudável, sem vícios negativos.

Dali para frente, soube que mesmo nos dias mais cinzentos, eu podia me achar nos olhos dele. Identificar ali o meu sentido. Tive a certeza de que posso ser eu confortavelmente e dispensar os personagens que me tornassem mais interessante. Isso fez de mim uma pessoa mais livre.

Naquela hora percebi que o amor deixa claro que a felicidade custa pouco. Vem em segurar a mão, sentir o corpo, ouvir a respiração. É tudo isso intensamente, mas não é dependência. É escolha. Sorrir para a sua pessoa a cada encontro e dizer 'sim'.