CIDADE MARAVILHOSA

Da mesma forma que o muçulmano exige de si a necessidade de ir pelo menos uma vez na vida à cidade sagrada de Meca e os habitantes do planeta como um todo planejam uma viagem à Disney ou ao histórico continente europeu, os brasileiros em geral querem, se possível em idade justa, conhecer a Cidade Maravilhosa, cartão postal de nosso vasto país, repleto de atores e atrizes globais. E com o advento dos Jogos Olímpicos que se avizinham e com a tão esperada Copa do Mundo daqui a menos de três anos, amplia-se o quantitativo de turistas que terão esse prazer deixado de ser um mero sonho. Mas, se o problema dos arrastões, dos assaltos em qualquer hora ou local e a angústia de levar uma bala perdida – que, ironicamente, pode se transformar em “achada” – já era motivo de temor quando da tão propalada visita, que ficamos daqui, impressionados, com esse negócio de bueiro explodir a todo instante e em qualquer local, envolvendo até bairros nobres.

Nos últimos doze meses ocorreram dezenove explosões em bueiros na cidade do Rio de Janeiro. Somente este ano foram dez explosões, em bairros os mais diversos, sendo que em uma das primeiras detonações, vitimou um casal de americanos. E imaginem vocês que, somente passados seis meses desse episódio, foi que o Ministério Público Estadual pediu investigação criminal dos incidentes. E só no dia seis de julho foi assinado o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que determina multa de cem mil à Light por cada bueiro que explodir. Ou seja, ao invés de sanarem o problema como um todo, estão buscando paliativos. Isso significa que uma multa com valor expressivo pode ser gerada, mas não evita que você e seus familiares voem pelos ares ao apreciarem, deslumbrados, uma das paisagens paradisíacas do lugar.

Existem quase nove mil bueiros espalhados pela cidade. Somente dia dezenove de julho, a prefeitura do Rio e o CREA fecharam o termo de referência com as especificações técnicas para a contratação de empresa para serviço de monitoramento independente dos bueiros. A tal empresa será responsável pela realização de quinhentos monitoramentos diários de caixas de inspeção e cinquenta monitoramentos diários de câmaras transformadoras. Por mês, deverão ser realizados onze mil monitoramentos como um todo, o qual deverá ser feito com detectores de gás, com leitura direta, para verificar a presença de gases inflamáveis e explosivos. Nos casos onde for comprovada a presença de gás na faixa de explosividade, a empresa deverá informar imediatamente o centro de operações da prefeitura do Rio, as empresas concessionárias e respectivas agências reguladoras, o CREA-RJ e o Ministério Público.

Sabemos, por lógica, que tudo que é construído, um dia irá necessitar de manutenção. E, envolvendo risco de vida humana, a manutenção deveria ser obrigatoriamente, preventiva. E sabemos todos que esses bueiros deveriam ter sensores locais, onde ao menor indício de vazamento, indicaria através de um painel em uma central, a necessidade de isolamento imediato de toda a área, até o problema ser sanado. Logo, por si só, o problema mostra-se grave e afeta a todos. E, segundo palavras do Procurador-Geral de Justiça, Cláudio Soares Lopes, “há indícios de omissão por parte dos órgãos públicos e empresas responsáveis pela manutenção dos bueiros, cujas explosões vêm fazendo vítimas e causando prejuízos à cidade”.

É importante lembrar que, para o cidadão brasileiro, independente do grotão onde se esconda, a Cidade Maravilhosa é um bem maior, orgulho de todos nós, apresentada em cores vivas, semanalmente, pelas novelas globais, gerando uma intimidade que só os brasileiros que residem fora de seu âmbito, conhecem. E, sinceramente, gostaríamos que fosse lembrada continuamente pela sua beleza natural e seu povo sempre hospitaleiro. Se já eram muitos os problemas a serem extirpados, aonde o tráfico de entorpecentes vem a configurar seu entrave maior, imagine nos depararmos com novo e periculoso risco, o qual se encontra abaixo de nós, camuflados, a nos atingir em qualquer ponto de seus passeios, a qualquer hora do dia.

RAbreu
Enviado por RAbreu em 20/07/2011
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