MUSAS - Texto do ano inicial do século XXI

Lindas donzelas pálidas, vestidas de nuvens e estrelas, de olhos límpidos e pés minúsculos que mal pisam o chão, mensageiras dos deuses a guiarem poetas por sendas dos Paraísos, seres sem peso de carne osso e sangue; outras, vampiras, por sendas bem menos etéreas. Na terra da Terra, robustas pastoras queimadas de sol, vestidas com rústicas túnicas de algodão, os pés calejados pelos seixos, a tangerem carneiros não tão brancos, por colinas nem tão suaves nem tão cristalinas nuvens, a criarem os filhos e filhas de seus pastores humílimos; por outro lado, putas tristes a morrerem tísicas em prostíbulos sem qualquer romantismo. Seres transfigurados em milhares de páginas, a povoarem através dos séculos a imaginação dos mortais. Ainda hoje, algumas retardatárias, de inútil função e rosto, a respirarem nestes começos do século XXI.

Lauras, Beatrices, Dinamenes, Marílias, Eugênias, Carmens e outras tantas múltiplas anônimas, seres de eleição, pequenas mortas na pequenez do dia-a-dia, aonde não chegam as estrelas e cujo mistério nenhum verso compreende nem o poderia. Musas de todos os tempos, demasiadas a morrerem à míngua da presença e da carne de seus poetas, exaustas de suas perfeitas palavras e almas; outras, abandonadas aos próprios, delas mesmas, poderes infernais sem remissão.

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O futuro que não existe gira cada vez mais rápido no presente perpétuo desta cidade de acrílico e infinita claridade, na qual até os becos mais escuros resplandecem de desesperada lucidez, neste agora quinquagésimo segundo após a meia-noite do PRIMEIRO DE TODOS OS INFINITOS DIAS DE UM NOVO(?) SÉCULO E MILÊNIO NESTA TERRA DE E PARA SEMPRE IGNOTOS E INSONDÁVEIS DESTINOS.

Republicação em 20 de julho de 2011, com algumas alterações.