EU QUERIA UMA BLUSA BEM SIMPLES
 



Entrei na loja pensando em comprar uma blusa de malha lisa, bem simples, para ‘bater’, como se dizia antigamente e eu morria de rir. Mas as que ali estavam penduradas eram todas cheias de nove horas. Trespassadas, com laçarotes, de grandes golas ou compridas demais. Depois de várias explicações, finalmente a vendedora puxou um cabide e mostrou: a mais simples que temos é esta. Desconsolada, olhei para o casaquinho feito de uns pontos de tricô em relevo, que o deixavam com aparência enrugada. Não, eu balbuciei, já me encaminhando para a porta. A moça, porém, não se deu por vencida. Experimente, a senhora vai gostar. Só para não desagradá-la, vesti a malha e olhei no espelho. Pois não é que ficou ótima? Comprei duas!
 
Saí de lá pensando na vida. Se nunca experimentarmos algo diferente, como é que vamos saber?... Dizem que mudar faz bem para o cérebro. Há tempos já troquei o relógio para o braço direito, procuro coisas no escuro, escovo os dentes mudando as mãos. Agora uso malhas enrugadinhas. Só falta virar os porta-retratos de cabeça pra baixo e andar de costas pela rua...
 
 


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