O ábaco e as calculadoras eletrônicas
Em 1980, quando eu, Marcos Augusto Trindade e José Trigueiro do Vale estivemos, por dez dias, em Moscou, aproveitando o “bon marché” de uma excursão da "Jeunesse Communiste de France" (MJCF), esses amigos, intelectuais paraibanos, admiraram, nas lojas moscovitas onde comprávamos suvenires, lindas russas fazendo, com uma rapidez incrível, as contas dos clientes numa moldura retangular, com arames, nos quais corriam pequenas bolas de madeira, chamada de ábaco. Aquela esquisita calculadora parecia um obsoleto instrumento, porém, de espantosa eficiência e com a vantagem de não consumir energia elétrica ou bateria. Segundo consta, ter-se-ia originado há mais de 5.500 anos e, na antiguidade, além de diferentes países como a China e a Mesopotâmia, também haveria sido usado pelos romanos e gregos para extensas contas que não cabiam nos dedos.
O ábaco lembrou as tabelas de madeira, fixadas na parede da sinuca do “seu” Adônis ou na do “seu” Jonas, em Itabaiana, onde inveterados do taco, como Capão, Barata, Galego Relojoeiro, Gualberto, Dedé de Severino Duré, Porfírio, Valdo Enxuto, José Maroja e Machinho passavam as tardesinhas dos dias úteis e as manhãs dos sábados e domingos, ora somando, ora diminuindo pontos, segundo a reluzente cor das bolas de marfim acertadas na caçapa. Somar assim era fácil; diminuir, um brinquedo. Mas, difícil seria dividir, multiplicar como faziam aquelas soviéticas, concluindo as quatro operações com muita habilidade. Conferíamos o resultado à parte, e o total era aquele mesmo, nenhum rubro a mais, nenhum “kopek” a menos.
Aprendi aritmética elementar no Grupo Escolar de Pilar e no Colégio N.S. da Conceição de Itabaiana. E ainda hoje, consigo fazer as quatro operações, tirando “a prova dos nove fora”. Gente formada, que aprendeu a calcular com máquina, nada faz; se lhe faltam esses acessórios eletrônicos, a conta não sai. Pois bem! Os ex-alunos da tradicional tabuada pintam miséria, apenas com lápis grafite como, na Rússia, aquelas abacistas com o ábaco. Tenente Bispo, que escrevia, com giz, cálculos de matemática na calçada da sua casa, ao lado da Matriz de Itabaiana, uma vez me observou: “Quem só usa máquina desaprende calcular”. Não me ocorreu perguntar-lhe se o mesmo acontece a quem usa o ábaco. Talvez. Mas, sem dúvida, o uso do computador e o desuso de nós mesmos, aos poucos, subutilizarão nossa memória, substituindo-a, cada vez mais, pela memória do computador, dos celulares, dos “smartphone”. Há sempre maior número de esquecidos. Se assim, com o correr do tempo, seremos sem memória; o computador imperará, tudo dependerá dele. Os dados para nossa memória não serão salvos, e o abuso da máquina deletará nossas aprendizagens e outros valores.
http://www.drc.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=3105688
Em 1980, quando eu, Marcos Augusto Trindade e José Trigueiro do Vale estivemos, por dez dias, em Moscou, aproveitando o “bon marché” de uma excursão da "Jeunesse Communiste de France" (MJCF), esses amigos, intelectuais paraibanos, admiraram, nas lojas moscovitas onde comprávamos suvenires, lindas russas fazendo, com uma rapidez incrível, as contas dos clientes numa moldura retangular, com arames, nos quais corriam pequenas bolas de madeira, chamada de ábaco. Aquela esquisita calculadora parecia um obsoleto instrumento, porém, de espantosa eficiência e com a vantagem de não consumir energia elétrica ou bateria. Segundo consta, ter-se-ia originado há mais de 5.500 anos e, na antiguidade, além de diferentes países como a China e a Mesopotâmia, também haveria sido usado pelos romanos e gregos para extensas contas que não cabiam nos dedos.
O ábaco lembrou as tabelas de madeira, fixadas na parede da sinuca do “seu” Adônis ou na do “seu” Jonas, em Itabaiana, onde inveterados do taco, como Capão, Barata, Galego Relojoeiro, Gualberto, Dedé de Severino Duré, Porfírio, Valdo Enxuto, José Maroja e Machinho passavam as tardesinhas dos dias úteis e as manhãs dos sábados e domingos, ora somando, ora diminuindo pontos, segundo a reluzente cor das bolas de marfim acertadas na caçapa. Somar assim era fácil; diminuir, um brinquedo. Mas, difícil seria dividir, multiplicar como faziam aquelas soviéticas, concluindo as quatro operações com muita habilidade. Conferíamos o resultado à parte, e o total era aquele mesmo, nenhum rubro a mais, nenhum “kopek” a menos.
Aprendi aritmética elementar no Grupo Escolar de Pilar e no Colégio N.S. da Conceição de Itabaiana. E ainda hoje, consigo fazer as quatro operações, tirando “a prova dos nove fora”. Gente formada, que aprendeu a calcular com máquina, nada faz; se lhe faltam esses acessórios eletrônicos, a conta não sai. Pois bem! Os ex-alunos da tradicional tabuada pintam miséria, apenas com lápis grafite como, na Rússia, aquelas abacistas com o ábaco. Tenente Bispo, que escrevia, com giz, cálculos de matemática na calçada da sua casa, ao lado da Matriz de Itabaiana, uma vez me observou: “Quem só usa máquina desaprende calcular”. Não me ocorreu perguntar-lhe se o mesmo acontece a quem usa o ábaco. Talvez. Mas, sem dúvida, o uso do computador e o desuso de nós mesmos, aos poucos, subutilizarão nossa memória, substituindo-a, cada vez mais, pela memória do computador, dos celulares, dos “smartphone”. Há sempre maior número de esquecidos. Se assim, com o correr do tempo, seremos sem memória; o computador imperará, tudo dependerá dele. Os dados para nossa memória não serão salvos, e o abuso da máquina deletará nossas aprendizagens e outros valores.
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