Como a Última Música

Ás vezes eu acho que a vida é parecida com um baile. Com esses bailes de interior que tocam de tudo para a gente dançar. Pois a gente passa grande parte do tempo se arrumando, se preparando, escolhendo a roupa certa e o sapato que combine, para que na hora que começar estarmos lá, preparados e prontos para dançar. Mas entretanto, tem vezes que a música que toca não é a que havíamos esperado e ensaiado os passos, daí ficamos em dançar esperando a música ideal. Eis que ela não toca e então saímos do baile sem dançar uma música sequer. Ou então escolhemos não dançar porque o nosso antigo par não quer mais dançar nossa música preferida, sem saber dançar outra, continuamos a dançar conforme seus gostos. E assim vamos dançando uma música, parando em outras, ou ainda passamos o baile inteiro esperando aquela pessoa especial que nunca vai aparecer.

Entre músicas dançadas e momentos parados o tempo do baile vai passando, hora após hora, até que se anuncie a última música. Ah! Essa ninguém quer perder, com par certo ou não, mas não querem perder essa emoção por nada, querem levar adiante o gosto que ficar. Tem vezes que dançamos a última música apenas por dançar e descobrimos que nela conhecemos a pessoa certa, aquela que sempre procuramos. Ou ainda que o nosso antigo par já não dança mais no mesmo compasso e ficamos sós antes do baile acabar, sem tempo para ensaiar novos passos.

E logo o baile acaba. Acaba na melhor hora. Bem antes daquela hora que íamos nos entragar nos braços do ser amado, na hora daquele beijo que poderia ter nos mudado para sempre. Acaba antes de se recompor das brigas enciumadas e pedir perdão. O perdão que poderia ter mudado tudo, pois o medo impediu de falar tudo o sempre se quis dizer. E quase ao fim da desistência, descobrimos que alguém pediu mais uma música e o tempo retorna para que tudo se resolva. Entretanto a vida pode ser um pouco diferente de um baile e as vezes temos que sair dela sem saber o por quê, pois ela não avisa quando será a última música, a última dança, o último momento para que possamos ensaiar novos passos e palavras. Ela simplesmente acaba!! Nos tira de cena no melhor da festa. Sem deixar nenhuma chance para um último beijo, um último abraço, para dizer que amamos, para pedirmos perdão. Ela acaba sem a gente ter ao menos aprendido a dançar, sem termos tempo de ensaiar os primeiros passos, sem termos encontrado o par ideal, pois somos muito seletivos buscando uma perfeição que não existe.

A vida não tem hora marcada para acabar, assim como um baile, e raras vezes toca uma música extra. Por isso o dizer de senti-la como se não houvesse um amanhã, devemos dançar todas as músicas mesmo se não soubermos dança-las direito, aos tropeços que seja então. Não devemos perder tempo tentando aprimorar demais os passos, como em uma coreografia, pois ninguém dançara igual, cada um tem o seu próprio jeito, seu molejo. Devemos então aceitar essas diferenças e ser feliz do jeito que somos, pois a vida pode variar, pode parecer uma pagodinho de fim de semana ou uma marcha fúnebre. Dancemos conforme a música enquanto é tempo, pois quando a vida tocar a Derradeira Valsa não haverá mais oportunidades de errar ou acertar.

E antes que esse baile que é a vida acabe, dá-me aqui a sua mão e dance comigo todas as músicas tocadas para nós, pois não existe a música ideal ou o par ideal, tudo é perfeito enquanto está na sua própria natureza de ser e saiba que a vida acaba muitas vezes sem a gente se quer dar conta que ela já começou. Não espere demais a música certa, apenas dance!

Viviane Tavares
Enviado por Viviane Tavares em 19/07/2011
Reeditado em 19/07/2011
Código do texto: T3105191
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