Expectativa de vida
Não são os 75 ou 80 anos como média calculada de existência que me faz pensar nisso como o produto final de uma conta fria e realista da cota de tempo inevitável. Em nossa bula de nascimento já está datado o prazo de validade. Mas, expectativa de vida entra e sai pelas narinas; por um ouvido e sai pelo outro; não mastigamos a existência, a engolimos apressadamente. Apressada mente que não descansa um só instante mas sorve em grandes goles a própria razão de existir deixando pelo caminho rastros que se apagam assim que a pressão do peso consciente, caminha como se existisse um caminhar. Estamos sempre na expectativa de que a vida não desapareça, não faça visita de médico a ponto de nem para um cafezinho ficar. Por quê? Agora, que a conversa estava boa, e já se vai? Ou é para ir mesmo e eu é que fico para trás; não sigo adiante, não mergulho no sumidouro do inexplicável.
É a minha ansiosa ou serena expectativa que afasta a vida para longe de mim; ou é a vida que faz vistas grossas como se eu não existisse? Passa por mim e me deixa falando sozinho, com meu gesto no vácuo estendendo-lhe a mão... E lá se vai, toda cheia de vida e eu aqui, com meus restos de consciência a ter-me como alguém na expectativa de que olhe para trás... uma olhadinha só e me dê um aceno, um “vem comigo”. E porque não vou?
Algo percebi: que a vida não olha direto nos olhos mas dá uma piscadela rápida e misteriosa como que aguardando, sem expectativas, que eu supere as minhas. Isso eu já fiz, há muito tempo. Só, que ainda não me dei conta.