Serralheria vem que tem

Certa vez, precisei de um serviço de serralheria. Assim, fui até uma oficina bem próxima de casa. Cheguei ao balcão e percebi que não havia ninguém naquele instante para um eventual atendimento. “Deve ter ido ao banheiro” pensei. Corri os olhos pela oficina e pude ver uma folha pendurada com os seguintes dizeres: “Não faço serviço para crentes”. Saí do mesmo jeito que entrei: sem ser percebido. Afinal, sou bem obediente.

Quero informar que este relato não é historinha.

Algum tempo depois, contei esse fato numa classe de homens na Escola Dominical. Alguns irmãos foram enfaticamente contra minha decisão de não executar o serviço ali, dizendo que o rancor do serralheiro decorria, provavelmente, de um crente mal pagador, e que ao realizar o serviço com ele, pagando-lhe corretamente, eu poderia mandá-lo tirar o aviso ultrajante.

Sinceramente, não consigo fechar a questão sobre se agi certo ou não. Não tenho dúvidas, porém, que o maior ônus fica por conta de não saber até hoje o que motivara tamanha ojeriza aos crentes.

Sei que há por aí uma boa quantidade de pessoas, as quais não se preocupam com a história que estão escrevendo, e assim, fazem coisas que até o inimigo duvida. Talvez, por isso, a igreja figure em 5º lugar numa pesquisa do DATAFOLHA sobre a confiabilidade das instituições brasileiras. A igreja perde para os Correios, os Cartórios, a Imprensa e para as empresas privadas. Faço, portanto, a seguinte leitura: o povo confia mais que uma carta simples chegará a ilha de Okinawa, no Japão, do que no que prega a igreja da pós-modernidade.

Seria leviano se deixasse de registrar que, na pesquisa, o termo igreja se refere à protestante, bem como a católica. Contudo, repare que o conceito da Igreja Romana não declinou em nossos dias, mas, em tempos remotos. É salutar informar também que a reputação da Igreja era medida pela conduta de seus líderes, como se vê em várias obras literárias que prestaram ótimo serviço ao denunciar os bastidores do clero; entre elas cito O crime do padre Amaro de Eça de Queiroz.

No contexto protestante, temos uma boa crítica que nos chega através da canção Chorem de Fernandinho: “[Senhor] não deixes cair a vergonha sobre a tua igreja... chorem os ministros de Deus, [chorem] os sacerdotes do Senhor”.

Também Malaquias nos alerta sobre esse importante assunto. Pela sua boca, Deus reivindica o respeito por parte de seus sacerdotes (Ml 1:6), prometendo punir aquele que não o reverenciar como Senhor:

Agora, ó sacerdotes, este mandamento é para vós.

Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz o SENHOR dos Exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e também já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o coração. (Ml 2:1,2)

Deus reitera que sua aliança com Levi, o pai dos que ministram, era uma aliança de vida e paz, para que houvesse temor daqueles que oficiavam. (Ml 2:5)

Sua repreensão é contínua, e Ele mesmo testemunha que Levi andou “em paz e retidão e a muitos apartou da iniqüidade”, ensinando a Palavra, que é dever de todo ministro (vs. 6,7), um contraste gritante em relação ao que praticavam os sacerdotes. (vs. 8)

A punição de Deus para aqueles que não o reverenciam devidamente é revelada no versículo 9:

Por isso, eu vou fazer com que o povo os despreze e rejeite, pois vocês não me obedecem e, quando julgam causas, não tratam a todos com justiça. Eu, o SENHOR Todo-Poderoso, estou falando. (NTLH)

Difícil, não é mesmo?

Para fim de conversa, registro que muitos crentes abarrotam os seminários em busca do ministério pastoral. Existem seminários para todo o gosto porque “quem deseja o episcopado, excelente obra deseja”; contudo lembremos as palavras do escritor de Hebreus: “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo”. (10:31)

A paz do Senhor!

Davi Tardim
Enviado por Davi Tardim em 18/07/2011
Código do texto: T3102843