A CIGARRA E A FORMIGA EM GOROBIXABA (Aleixenko Oitavo)
A CIGARRA E A FORMIGA EM GOROBIXABA
O lugar era lindo, morros com vegetação exuberante, pássaros multicoloridos, em Gorobixaba tudo é belo, é bom e faz feliz; mas aquela cigarra era de amargar.
- “Quem não tem colírio, usa óculos escuro; quem não tem filé come pão e rói osso duro”.
A princípio é um refrão bonito, sonoro; de mais a mais se for na voz do seu interprete “Raul Seixas”. Mas como estribilho na cantoria de cigarra é intolerável. E aquela cigarra estava ali de encomenda, “de boa”, como diria o pessoal teen; não fazia nada a não ser cantar o referido e maldito refrão, noite e dia, faça chuva ou faça sol, quando não tomava skol. Por outro lado, sua e, minha amiga a formiga, era a operária padrão da região. Trabalhar, trabalhar e trabalhar estes seus três afazeres diários.
Cortava uma folha de capim aqui, torava uma folhinha de Jamelão ali; carregava tudo para seu nicho. Chegando lá, vinha a trabalheira de selecionar, empilhar, organizar e salivar toda aquela gororoba; a saliva das formigáceas é que faz com que o alimento delas não putrifique, conservando-o sempre fresquinho e apetitoso, isso lá para elas, que eu gosto mesmo é de cupim assado, picanha grelhada, lingüiça na brasa; deixemos o boi vivo e voltemos à formiga.
As formigáceas são dotadas de força tal, que se fosse dada ao homem, proporcionalmente; este seria um Hércules. Ela é capaz de transportar uma carga tal, que suplanta seu próprio peso em até oitenta vezes. Que maravilha! Elas são incapazes de nos atazanar com qualquer tipo de som, já que não falam nem cantam, não chiam nem reclamam e muito menos declamam.
Mas picam! Quando não, elas são capazes de nos morder com uma ferocidade, principalmente se estas formigas não fizerem parte da fábula da cigarra.
Que coisa! Esta formiga retratada aqui até que fala, mas é só onomatopéia, nunca faz algazarra como a cigarra.
Não duvide! Elas se encontraram.
A cigarra:
- Minha amiga, formiga; descanse. “Quero ver no seu rosto um sorriso alegre, quero esquecer da vida para viver o amor, agora a chuva está caindo e não vai parar, reze para que este dia não chegue, pois você me encontrou”. Refrão de uma música do Amado Batista.
A formiga:
- Pois é, dona cigarra, deixa estar, logo logo vou descansar.
- Faça como eu, amiga formiga. “Canto, bebo e choro, nos braços desta viola; só ela mesma que me consola”.
- Pode o inverno voltar, você não quis trabalhar; aí sim quero ver o que você vai comer.
- Para que hoje me preocupar? “Pode o outono voltar, eu quero estar junto de ti, é primavera”. Da letra de uma música do Tim Maia.
- Não pense a senhora dona cigarra, que na hora do aperto vou esquecer sua farra; e deixá-la se alimentar do que foi difícil para eu armazenar.
- Então eu canto. “Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo”. Roberto Carlos.
Ambas se fuderam.
A formiga o inseticida a matou.
A cigarra virou alimento de pássaro.
O ciclo da vida é inexorável; para cada um de nós, chega nosso dia: de glória como de morte.
(dezembro/2007)
Por ALEIXENKO OITAVO, Primeiro Ministro de Gorobixba